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Unidade 3


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Introdução

Diante de um mundo que viu nascer a internet e toda a tecnologia que nos conecta e possibilita-nos alargar os horizontes da existência, surgem novos problemas não só na relação entre as pessoas, mas também entre as pessoas e as “coisas” à sua volta, incluindo o que chamamos de natureza ou meio ambiente. Nesse mundo, acessar o conhecimento, de modo geral, não é uma dificuldade. Entretanto, tratamos de um mundo onde se jogam alimentos no lixo, enquanto pessoas morrem de fome; de um mundo em que se descobre a vacina para grandes doenças, mas se morre de gripe, por falta de acesso ao sistema de saúde ou por não se ter dinheiro para comprar remédios; de um mundo que eleva o discurso da diversidade, mas mata-se por muitos não aceitarem que existem pessoas diferentes na fé, na política, na afetividade, etc. A ética desponta como o imperativo, sem o qual nenhuma relação será mais possível, porque não será mais possível a vida!

Origens da Ética

Antes de falar sobre suas origens, é importante discorrer sobre o conceito de ética, cuja abstração, muitas vezes, leva-nos a confundi-la com outros conceitos também abstratos, como moral ou valor. Daí a importância da reflexão de Cohen e Segre (2002) sobre a distinção entre ética, eticidade, valores e moral. São conceitos materializados em ações práticas que configuram uma realidade social concreta, ou seja, incide na vida cotidiana das pessoas infringindo-lhes determinadas condições e limites de atuação, experiência, vivência, mas que partem de ideias (abstrações) e uma leva a outra. Portanto, são conceitos inter-relacionados, mas que não se confundem, mantendo cada um em seu escopo próprio.

Por questões didáticas, partiremos do conceito de “valor”, que nos conduzirá ao de “moral” e, depois, aos outros dois, “eticidade” e “ética”, nesta ordem. Isso não quer dizer que exista uma linha sucessória e progressiva desses conceitos, como se houvesse uma linearidade evolutiva na sociedade, a qual partisse do primeiro em busca do segundo e, assim, sucessivamente. Diferente disso, conseguindo compreender corretamente suas diferenças, é possível perceber que determinada ação pode ser moral sem ser, necessariamente, ética, tanto quanto ter, por princípio, um determinado valor que pode implicar numa ação imoral. Veremos, no intercâmbio desses valores, que há sempre um dilema em jogo, fruto dessa experiência de vida humana, desse ser que é híbrido entre natureza (caráter biológico) e cultura (caráter social).

Segundo os autores supracitados, o que define o termo “valor”, na concepção aqui tratada, é a adoção de determinado modelo como parâmetro para a conduta individual no meio social. Um valor expressa a base em que se assentam os significados compartilhados numa sociedade, sendo transmitido de uma geração a outra, de modo que os valores antecedem aos indivíduos, pois, sendo significados produzidos e compartilhados culturalmente, já existem antes do indivíduo nascer, imputando-lhe as noções que vão orientar seu comportamento depois. Dessa forma, o indivíduo é um intermediador de valores de uma geração para outra.

Marilena Chauí (2000) acrescenta que esses valores estabelecem certas regras de conduta, cujos parâmetros são definidos em torno do que é bom e do que é mal, portanto, do que é permitido e do que é proibido, que deve ser seguido por toda a sociedade. Daí a noção desses valores direcionando-nos para o entendimento da moral. Para Vasquez (1984), a moral é um conjunto de ideias tomadas como norteadoras das ações, ou seja, como princípios que orientam a conduta numa determinada sociedade ao longo de uma determinada época. O autor faz uma distinção entre o que coloca como sendo, de um lado, a “moral” e, de outro, o que seria a “moralidade”. A grosso modo, a moral seria o conjunto de princípios ou regras que balizam a conduta, a moralidade e a prática desses princípios, ou seja, a moralidade seria a moral em ação.

A moral efetiva, portanto, inclui não apenas normas ou regras de ação, mas também - como devida conduta - os atos que estão de acordo com eles. Ou seja, o conjunto de princípios, valores e prescrições que os homens, em uma determinada comunidade, consideram válida como os atos reais em que aqueles estão encarnados ou incorporados (VASQUEZ, 1984, p. 63).

Já no sentido inverso, o conceito de “eticidade” é uma condição prévia para a ética. Segundo Cohen e Segre (2002), a eticidade é uma capacidade que o indivíduo deve desenvolver, sem a qual não conseguirá ser ético, e diz respeito à característica de perceber os conflitos inerentes à ação humana, ou seja, é a capacidade de escolher a conduta mais adequada diante de uma situação que requer o equilíbrio entre razão e emoção, ou, ainda, entre interesses particulares e interesses coletivos, conseguindo ser coerente em seus princípios, lembrando que estes são aprendidos socialmente. Nesse sentido, os autores estabelecem três características que balizam a conduta ética: identificação de conflitos; o uso da autonomia e a consistência da ação pautada pela coerência da conduta (COHEN; SEGRE, 2002)

Marilena Chauí (2000), por sua vez, chama atenção para o fato de que a ética, exprimindo a maneira como a sociedade organiza-se a partir dos valores que define para si naquilo que deve e o que não deve ser feito, é cultural e como tal está marcada por determinadas condições históricas, políticas e econômicas (CHAUÍ, 2000). Portanto, a ética não é um código estático ao longo do processo histórico da humanidade. Como apresenta Adolfo Vasquez (1984), trata-se, antes, de doutrinas que remontam a longa data e que se transformam culturalmente, a depender da necessidade de responder a problemas novos, que surgem nas diferentes sociedades e em diferentes contextos históricos. Esses problemas surgem das mudanças sociais que imprimem novas relações entre os indivíduos e, assim, “as doutrinas éticas não podem ser consideradas, portanto, isoladamente, mas dentro de um processo de mudança e sucessão, que constituem adequadamente sua história” (VASQUEZ, 1984, p. 249).

Em toda moral efetiva, certos princípios, valores ou normas são incorporados. Ao mudar radicalmente a vida social, a vida moral também muda. Os princípios, valores ou normas nela incorporados entram em crise e exigem esclarecimentos ou substituições por outros. Surge, então, a necessidade de novas reflexões éticas ou uma nova teoria moral, já que os conceitos, valores e normas vigentes tornaram-se problemáticos. Assim se explica o surgimento e sucessão de doutrinas éticas fundamentais na relação com a mudança e sucessão das estruturas sociais e, dentro delas, a vida moral (VASQUEZ, 1984, p. 249-250).

Entre os autores elencados neste estudo, de modo geral, há a identificação de quatro momentos de análise da ética enquanto teoria fundamental: ética da antiguidade grega, a ética cristã medieval, a ética moderna e a ética contemporânea. É imprescindível notar que o estudo das teorias éticas chamadas de fundamentais estão rigidamente delimitadas em termos da sociedade ocidental. Esse é um ponto crucial para entender a ética como dilema da humanidade, na medida em que o pensamento e reflexão sobre o que é ser ético pauta-se, previamente, em códigos ou valores determinados por um tipo de sociedade (ou civilização), desconsiderando, portanto, os códigos de convivência de outros modelos de sociabilidade com sua ética própria. Apesar disso, a tradição filosófica, que é também eurocêntrica, trata das diferentes teorias éticas, com base nos modelos temporais que serão apresentados a seguir.

Ética da antiguidade grega

De acordo com Álvaro Valls (1994), os gregos, como Platão e Aristóteles, buscavam desenvolver, por uma conduta teórica e prática, uma ética vinculada à ideia do bem ou da felicidade. Para isso, era necessário uma prática cotidiana, isto é,  nas coisas do mundo, desenvolver uma a virtuosidade numa vida bem vivida, cuja ideia de bem aqui consiste em priorizar as capacidade superiores, desenvolvendo e aprimorando suas habilidades para o bem viver (coletivamente). Para os estóicos, esse bem viver significava viver de acordo com a natureza, sendo esta uma ideia ligada à harmonia cósmica. Segundo o autor, essa ideia, posteriormente modificada, foi adotada no cristianismo como relativo a viver conforme as leis de deus, na medida em que deus teria criado as leis da natureza e, portanto, submeter-se às leis da natureza seria obedecer os preceitos divinos. Para outros, como os epicuristas, a ideia de bem estava ligada à satisfação de prazeres, em que viver bem era ter prazer, cuja moderação era algo inerente à vida, visto que o exagero podia fazer mal, gerando, então, desprazer. Assim é que a sabedoria deveria ser buscada em identificar o momento de gozar a vida sem que esse gozo terminasse por lhe infligir um incômodo, ou seja, a moderação era indício de refinamento e mostrava um bem viver, pois não significava impedimento, mas, antes, a possibilidade de sentir-se sempre bem no prazer da vida (VALLS, 1994).

A ética cristã medieval

No período medievo, em que há a predominância do pensamento cristão, ética e religião confundem-se, ou, antes, uma é regida pela outra. Nesse “espírito do tempo”, a ética pautava-se por princípios morais cristãos, fazendo com que as pessoas agissem, em sua vida cotidiana, segundo os preceitos ditados pela Igreja.

O lema socrático do "conhece-te a ti mesmo" volta à tona, em Santo Agostinho, que agora ensina que "Deus nos é mais íntimo que o nosso próprio íntimo". O ideal ético é o de uma vida espiritual, isto é, do acordo com o espírito, vida de amor e fraternidade. Historicamente, porém, muitas formas dualistas, que separavam radicalmente, por exemplo, o céu e a terra, esta vida e a outra, o amor a Deus e o amor aos homens, acabaram dificultando a realização dos ideais éticos cristãos. Nem sempre os cristãos estiveram à altura da afirmação do seu Mestre: "Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (VALLS, 1994, p. 44-45, sic).

A ética moderna

A partir do século XV, entra em cena a influência da antiguidade greco-romana e emerge a era conhecida como Renascimento que, junto ao Iluminismo, dão a pauta de um pensamento que vai consolidar-se na vida humana da Europa (e do resto do mundo com o processo perverso de colonialismo), cujo marco histórico é a Revolução Francesa. O ideário da “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” reflete a emergência de um humanismo que enfoca o “indivíduo”, um ser universal dotado de direitos naturais, mas, sobretudo, é quando emerge o valor da liberdade, bem como as ideias do liberalismo político e econômico.

O grande pensador da burguesia e do Iluminismo, Kant, identificou bastante, como temos visto, o ideal ético com o ideal da autonomia individual. O homem racional, autônomo, autodeterminado, aquele que age segundo a razão e a liberdade, eis o critério da moralidade.  Se Kant e a Revolução Francesa acentuaram de maneira talvez demasiado abstrata a liberdade, o ideal ético para Hegel estava numa vida livre dentro de um Estado livre, um Estado de direito, que preservasse os direitos dos homens a lhes cobrasse seus deveres, onde a consciência moral e as leis do direito não estivessem nem separadas e nem em contradição (VALLS, 1994, p. 44-45).

Para o autor, nesta época, os códigos morais dados pela religião ou pela tradição foram sendo relegados ao âmbito do privado. O domínio de ideias de espiritualidade, seja nos termos dos clássicos, seja no aspecto do cristianismo, passou a ser algo que não diz respeito à ética das relações do espaço público, cabendo, ao indivíduo, lidar com isso de modo particular. Os assuntos mais gerais, que dizem respeito à coletividade, foram encapsulados no discurso ideológico.

A ética contemporânea

A discussão de Álvaro Valls (1994) data a contemporaneidade a partir do século XX, quando as ideias dos pensadores, até o século XIX, passam a influenciar e distinguir diferentes correntes de pensamento. Segundo o autor, o foco na discussão sobre a liberdade era, para a corrente do existencialismo, uma questão que se voltava, primordialmente, para a pessoa no seu aspecto mais individualizado. Nessa corrente, a ética é algo que diz respeito a valores, como a escolha, o ser autêntico, decidido, no âmbito mais pessoal e particular. Outra corrente, no sentido oposto e mais coletivo, o pensamento social da dialética marxista preocupa-se com uma ética voltada à justiça social. Dessa maneira, trata-se de um ideal ético que prioriza as relações sociais, buscando, sobretudo, uma sociedade mais humana, superando as brutais desigualdades econômicas. O autor chama atenção para o caso que, do ponto de vista ético, essas desigualdades, marcadas pelo tipo de economia desenvolvida na sociedade capitalista, ocorrem sob a égide do Estado:

Assim como em Maquiavel e Hegel a razão de Estado parecia infiltrar-se na reflexão ética como elemento complicador, também no pensamento revolucionário de esquerda surgem alguns problemas semelhantes. A relação entre os meios e os fins não parece um problema resolvido. Também não se entende muito bem que uma geração deva ser sacrificada hoje pelas gerações futuras, e há quem diga que a justiça futura não compensará jamais a injustiça atual. E assim por diante (VALLS, 1994, p. 46).

Nesse contexto, Valls (1994) ainda ressalta, utilizando uma comparação com a ética epicurista, que os países ricos se caracterizariam por buscar o prazer com a diferença de que, neste caso, não há moderação. Além do mais, salienta que, atualmente, esse prazer manifesta-se pela sociedade de consumo, ou seja, o prazer corresponde à posse de bens e propriedades. Em nome do “direito à propriedade”, comete-se muita injustiça, ao longo da história. Esse cenário gerou, também, a massificação da sociedade, por ideologias disseminadas pelos meios de comunicação de massa, religião e aparatos do Estado, caracterizada pela falta de ética, segundo o autor, já que não há mais moral que balize as condutas, isso porque a alienação causada pelo tipo de sociedade gerada no capitalismo, em que tudo vira mercadoria, não permite o desenvolvimento de indivíduos livres e sujeitos conscientes, que sejam capazes de atuarem como cidadãos autônomos e participantes (VALLS, 1994).

Conforme podemos notar, pelos excertos acima, a discussão sobre ética atualmente está amparada, primeiro, no pensamento oriundo do tipo de sociedade ocidental, cujo modelo se expande para outros cantos do mundo, devido ao processo de colonialismo perpetrado pelos povos europeus ao redor do globo; segundo, que esse modelo de sociedade engendrada pelo sistema capitalista e sua ideologia pautada no individualismo, liberalismo político e econômico, meritocracia, além, obviamente, de outros sistemas de pensamento, como machismo, patriarcalismo, racismo, cristianismo, entre outros, incute valores que naturalizam as desigualdades sociais de todos os tipos, fazendo com que, na complexidade das relações em jogo, a ética se torne algo vinculado a uma discussão que extrapola o conflito individual, acabando por configurar-se como um dilema social. É o que será possível perceber na discussão das próximas sessões.

Reflexão Teórico-Crítica da Ética, da Moral e da Cidadania no Mundo Contemporâneo

É consenso que a ética corresponde a um agir de acordo com o que é bom e justo. A questão que temos tratado aqui, por dilema, é chegar a uma definição consensual do que seja bom e justo, “mas a opção entre o bem e o mal, distinção levantada já há alguns milênios, parece continuar válida” (VALLS, 1994, p. 67). Marilena Chauí (2000, p. 434) apresenta-nos o que considera por características do campo ético, “constituído pelos valores e pelas obrigações que formam o conteúdo das condutas morais, isto é, as virtudes”. Segundo a autora, é condição de uma conduta ética a existência de um agente consciente, que, por sua vez, deve conhecer o que difere o bem do mal, o que é certo do que é errado, o que pode do que não pode fazer, enfim, saiba a diferença entre virtude e vício. Nesse sentido, é necessário uma capacidade de julgamento dos valores que guiam cada ação, para que seja possível agir de forma coerente, assumindo a responsabilidade pela consequência dos seus atos. Daí que a vida ética requer consciência e responsabilidade (CHAUÍ, 2000).

De acordo com a filósofa, a conduta moral requer a capacidade de julgamento e de discernimento, para escolher a melhor conduta antes de agir. Essa capacidade apresenta-se no exercício de avaliação das questões relevantes, sejam os motivos pessoais, a situação em si, as possibilidades e consequências de cada uma delas para si e para os outros, a coerência entre meios e fins, considerando, ainda, a obediência ou transgressão de valores estabelecidos conforme a situação mostrar-se justa ou injusta. O problema que se apresenta diante do sujeito ético é que, para ter a capacidade de deliberar sobre suas escolhas, ou seja, exercer sua vontade, esta não pode estar submetida a nada, nem à vontade de outros sujeitos, nem a nenhuma instância subjetiva, como os instintos e paixões. O sujeito ético precisa ser autônomo e racional, para que a sua vontade, isto é, a sua deliberação, seja livre. Nas palavras da filósofa:

O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa, só pode existir se preencher as seguintes condições:

? ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele;
? ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
? ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências dela sobre si e sobre os outros, assumi-la bem como às suas conseqüências, respondendo por elas;
? ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta (CHAUÍ, 2000, p. 434).

A autora finaliza sua explanação sobre os componentes do campo ético chamando atenção para dois pólos que emanam dessa questão: o agente de um lado e os códigos (valores morais/virtudes éticas) de outro. O agente ético, por seu lado, não pode ser passivo, “aquele que se deixa governar e arrastar por seus impulsos, inclinações e paixões, pelas circunstâncias, pela boa ou má sorte, pela opinião alheia, pelo medo dos outros, pela vontade de um outro, não exercendo sua própria consciência, vontade, liberdade e responsabilidade” (CHAUÍ, 2000, p. 434). Isso porque, se a vontade deve ser livre, somente é ético o agente que exerce o poder de decisão, de escolha sem as amarras dessa condição de passividade. De outro modo, o ser ativo é virtuoso quando, por sua capacidade, consegue controlar seus instintos, ou seja, suas inclinações regidas por paixões, elaborar, pela reflexão, os valores estabelecidos socialmente, distinguindo situações em que esses valores acabam gerando injustiça e se lança à transgressão, pois busca exercer valores outros que julga mais justo do ponto de vista social. Além do mais, este ser é ainda capaz de dar-se a si mesmo as diretrizes para sua conduta, refletindo antes, de forma racional, considerando os outros, sem sujeitar-se a eles e respondendo por sua conduta, já que julga suas próprias vontades, rejeitando toda e qualquer violência a quem quer que seja (CHAUÍ, 2000).

Outro aspecto relativo ao exercício da ética é colocada por Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho em Ética e vergonha na cara!. Complementando a filósofa, esses autores retomam o aspecto da ética como algo autêntico, ou seja, a coerência já indicada no início do texto. Nas palavras desses autores, “autêntico é aquilo que coincide com ele mesmo, isto é, que não é simulacro ou imitação, ou fingimento, ou dissimulação. Em outras palavras, autêntico é o que não perde inteireza e integridade” (CORTELLA; BARROS, 2014, p. 46). Trazendo o aspecto da ética como uma instrução, ou seja, como algo que se aprende e se exercita, Cortella (2014) coloca o lado concreto do conceito:

a ética não é abstrata, não é prática – prática é a moral. A ética é concreta. [...] E desse ponto de vista, a ideia da ética como instrução, portanto, como uma concretude na vida das pessoas, obviamente é de natureza exemplar. [...] Ou seja, como a nossa formação, dentro de uma sociedade e cultura, se dá a partir daquilo que temos como espelhamento de conduta, crianças e jovens, em grande medida, se formam eticamente a partir daquilo que observam como conduta prática correta do pai e da mãe. Daí a dificuldade de se admitir que o cinismo possa existir no seio da família; porém, é exatamente dentro dela, mais do que na empresa, que ele tem lugar (CORTELLA; BARROS, 2014, p. 37).

Trata-se de um paradoxo que faz sentido, pois “ela é teórica apenas do ponto de vista daquilo que orienta a prática, mas não é abstrata, não está fora do nosso cotidiano” (CORTELLA; BARROS, 2014, p. 38). Nesse sentido, as características apresentadas por Chauí (2000) tomam forma concreta nas ações observadas pelos autores. A vontade deliberativa que pressupõem a autonomia emergente na ação concreta das pessoas e esta ação, a conduta ética, está diretamente ligada ao exercício de escolher. Neste ponto, coloco o problema como um dilema: são inúmeras as situações que dependem de deliberação para agir; e essa deliberação, segundo os autores citados acima, precisa, ao mesmo tempo, lançar mão e abrir mão do que ambos chamam de soluções existenciais, ou seja, de todas as possibilidades. Devemos escolher apenas uma possibilidade, portanto, todas as outras são descartadas; e isso acontece a cada situação em que precisamos deliberar para escolher por uma ação mais condizente e coerente com valores de virtuosidade (CORTELLA; BARROS, 2014).

Por isso, os autores chamam a atenção para a chance do arrependimento, na medida em que, das inúmeras possibilidades, só podemos escolher uma, e há grande possibilidade de que outras escolhas produzam um resultado melhor. Daí decorre que, quando sofremos, fica a impressão que este sofrimento poderia ser evitado, se fosse escolhido outro caminho. Outra consequência disso, levantada pelos autores, é que, uma vez tomada a decisão e executada, acaba-se o problema, mas como fica sempre a impressão de que haveria uma escolha melhor, carregamos sempre um sentimento de angústia. Isso é próprio da liberdade, ou seja, quem é livre, nos termos que Marilena Chauí apresenta, sabe que não pode prescindir da deliberação e escolha e esta estará sempre marcada por todas as outras descartadas: “dentre as hipóteses que passam por nossa cabeça, atribuir valor a elas e identificar a de maior valor é uma tarefa que nos acompanhará sempre; não há vida sem escolha e não há escolha sem valor” (CORTELLA; BARROS, 2014, p. 47). Nesses mesmos termos trazemos a explicação de Álvaro Valls, para finalizar esta reflexão sobre a conduta ética diante da complexidade da vida contemporânea:

Um dos pseudônimos de Kierkegaard, definido exatamente como "o Ético", afirmava, por isso: "meu dilema não significa, em primeiro lugar, que se escolha entre o bem e o mal; ele designa a escolha pela qual se exclui ou se escolhe o bem e o mal". Neste sentido, poderíamos continuar, dizendo que uma pessoa ética é aquela que age sempre a partir da alternativa bem ou mal, isto é, aquela que resolveu pautar seu comportamento por uma tal opção, uma tal disjunção. E quem não vive dessa maneira, optando sempre, não vive eticamente (VALLS, 1994, p. 68).

Reflita

Pensando na ética como um dilema, mas, sobretudo, como algo concreto na vida das pessoas, observemos a situação abaixo:

Tínhamos feito um show, só para camponeses, que terminava com atores cantando frenéticas saudações revolucionárias, braço esquerdo levantado, punho cerrado: “A terra pertence a quem trabalha! Temos que dar nosso sangue para retomá-la dos latifundiários!”. Coisas que todo mundo pensava e achávamos conveniente repetir. Arte da época.
Foi quando o camponês Virgílio, chorando entusiasmado com nossa mensagem, me pediu que, com o elenco e os fuzis, fôssemos com seus companheiros lutar contra os jagunços de um coronel, invasor de terras. Quando respondemos que os fuzis eram falsos, cenógrafos, não davam tiros, e só nós, artistas, éramos verdadeiros, Virgílio não hesitou e disse que, se éramos de fato verdadeiros não nos preocupassemos: eles tinham fuzis para todos. Fôssemos apenas lutar ao seu lado. Quando lhe dissemos que éramos verdadeiros artistas e não verdadeiros camponeses, Virgílio ponderou que, quando nós, verdadeiros artistas, falávamos em dar nosso sangue, na verdade estávamos falando do sangue deles, camponeses, e não do nosso, artistas, já que voltaríamos confortáveis para nossas casas.
Esse episódio me fez compreender a falsidade da forma mensageira de teatro político, me fez entender que não temos o direito de incitar seja quem for a fazer aquilo que não estamos preparados para fazer (BOAL, 2014, p. 213).

Como se dá a ética, nesta situação, para os camponeses, os latifundiários, os artistas e os espectadores que assistem a peça de teatro político? Se o ser ético é um ser racional, é possível estabelecer uma lógica que compreenda uma ação ética capaz de resolver os conflitos de cada um desses indivíduos ou grupos? É ético despertar a consciência ou incitar a luta pelo seu meio de vida? É ético que esta luta seja com força armada? É ético contratar seguranças para salvaguardar sua propriedade? É ético possuir um latifúndio? É ético assistir a peças de teatro político, mas não se envolver em militância?

Não há respostas certas ou erradas, mas trata-se de um exercício de reflexão para pensar que a ética, como condição humana, é um dilema da vida social.

Se a cidadania pressupõe um contexto democrático, visto que trata da relação entre sujeitos titulares de direitos e responsáveis por deveres, considerando, também, que o conflito é inerente à sociedade democrática, retomamos a importância da ética para uma vida social pautada por princípios democráticos. Entretanto, é também neste ponto que a ética expressa um certo caráter de dilema. Há interesses inconciliáveis entre diferentes grupos sociais e suas disputas, como a questão da terra. O direito à propriedade é entendido e reivindicado por latifundiários, povos tradicionais e povos nômades de diferentes maneiras. O valor da terra para um latifundiário é completamente diferente para uma comunidade quilombola, que difere também de alguns grupos ciganos itinerantes. Mas cada qual tem o direito de lutar por ela em uma sociedade que preza pela democracia.

Esse exemplo demonstra a complexidade das relações éticas para o tratamento de certas questões, especialmente no âmbito das políticas públicas. Mas este é apenas um aspecto de uma infinidade de questões que a vida contemporânea apresenta. Nas próximas sessões, mais alguns pontos da ética como dilema serão apresentados, no tocante a dois campos específicos da ética enquanto disciplina, tornando possível vislumbrar como esta complexidade requer, cada vez mais, o despojamento ou, antes, o deslocamento dos valores internalizados, bem como a desconstrução desses valores, para relocar as questões sob outras perspectivas e se abrir para um diálogo necessário à convivência social, diante de um mundo onde a virtualidade acelera as relações e a necessidade de respostas a problemas cada vez mais complexos e multifacetados.

Ética Ambiental

Conforme viemos conversando, a ética não é algo fixo e imutável, ao contrário, ela surge e se metamorfoseia conforme a necessidade de dar novas respostas aos problemas humanos, devido às transformações sociais pelas quais as sociedades vão passando, no decorrer histórico. A ética ambiental não é diferente disso, pois é, antes, uma vertente que se volta para a necessidade de um agir ético, no tocante às questões relativas a uma instância da qual o indivíduo apartou-se, em função do pensamento cartesiano, que estabeleceu as bases do que é considerado científico. Ou seja, a separação do que é humano/cultural daquilo que se convencionou chamar de natureza.

Essa dicotomia cultura x natureza engendra a ideia de que o ser humano não se confunde com a natureza e o pensamento do ser humano racional, nos termos produzidos pelo pensamento ocidental, que gerou a noção de apropriar-se da natureza como algo que é possível dominar e explorar, que é passivo, enquanto o sujeito humano é ativo. Por resultado disso, tem-se a degradação ambiental e o surgimento da preocupação com a própria sobrevivência da humanidade, na medida que o ser humano depende da natureza para viver.

Isso decorre das ideias que se desenvolveram vinculadas a um modelo de desenvolvimento em que haveria uma contínuum histórico rumo à evolução, de modo que a modernização seria sinônimo de progresso e este se dá expressado  em uma sociedade industrializada, ou seja, considerada central no capitalismo. Outro termo utilizado para descrever esse modelo é o centro hegemônico, aquele que corresponde aos países do Norte, os países ricos, que assim o são, tendo explorado e saqueado o resto do mundo ou o que foi designado como terceiro mundo, ao final do século XX (GUIMARÃES, 2004).

O projeto de modernidade pautou-se na noção de dominação da natureza. As descobertas científicas e tecnológicas permitiram, ao ser humano, um salto de autonomia em termos de uma vida possível para além dos ciclos naturais. Antes, para realizar a plantação e colheita do alimento, era preciso o trabalho braçal, artesanal, que demanda tempo e muito esforço físico. Com a maquinaria, a indústria agrícola faz o trabalho e hoje nem conhecemos a forma das plantas que dão os frutos que comemos. Basta passar numa gôndola de supermercado e escolher o produto que quisermos, escolha esta que será perpassada pelo poder de compra do consumidor. Além do mais, a simples ação de ir a uma loja comprar um produto é tão corriqueira que não nos damos conta de toda a cadeia industrial por trás deste ato.

Quem nasceu e vive em cidades não se dá conta em sua maioria do que está acontecendo, as luzes intensas, o ritmo frenético, hora do trabalho, hora das diversões retiram o tempo e a possibilidade de reflexão e percepção.  Por outro lado, a água disponível nas torneiras e os alimentos disponíveis nos supermercados (não para todos), lhes conferem uma sensação poderosa de independência devidamente reforçada pela mídia e corroborada pelo processo de educação. Aqueles recém-casados nem imaginam que para produzir as suas duas alianças de ouro foram geradas duas toneladas de resíduos despejados no ambiente (DIAS, 2002, p. 21).

Essas mudanças históricas ocorreram em um período de tempo bastante curto, a considerar a história da humanidade, e foi baseado num princípio de evolução, como se houvesse uma força inexorável e linear que nos conduz, inevitavelmente, do pior para o melhor, mas que não considera a complexidade da vida. Essa linearidade foi entendida pelos europeus como se fossem a referência de sociedade melhor e, por isso, justificavam dominar o restante do globo e engendraram o colonialismo, justificando, inclusive, o pérfido sistema de escravização de povos, para eles, considerados primitivos.

O modelo de desenvolvimento que se segue disso é, portanto, produtor de pobreza, ou outro termo mais comumente usado, em se tratando de economia, o subdesenvolvimento. O dito desenvolvimento é uma faca de dois gumes: gera riqueza (para uns), produzindo extrema pobreza, miséria (na maioria restante). Culturalmente, foi gerada uma sociedade massificada, em que o consumo passa a ser protagonista e engrenagem principal do processo de desgaste não só da natureza como fonte de recursos imageticamente inesgotável - o que é uma falácia - mas também, e principalmente, dos valores culturais. Vê-se, então, surgir uma cultura planificada, na qual a diversidade cultural vai sendo soterrada.

Partindo de um modelo de sociedade rudimentar culminando no modelo norte-americano e europeu, considerado único e Universal; Tal Qual um mecanismo evolutivo simplista. Por esta hipótese, as diferenças culturais existentes entre os países seriam apenas uma consequência dos retardamentos em relação à modernização,  entendida como sinônimo de evolução,  e não às diferentes formas de se apropriar e interagir com o ambiente. A verdadeira cultura seria representada pela civilização ocidental industrializada de consumo, e as outras, tratadas como entrave ao desenvolvimento, deveriam ser sumariamente eliminadas (LAYARGUES et al 1998 apud GUIMARÃES, 2004, p. 51).

A origem da atual degradação do meio ambiente está, portanto, diretamente relacionada à emergência das relações sócio-políticas engendradas pelo capitalismo e toda sua forma de exploração sob a égide da modernidade. Ser moderno é ser industrializado, urbano, tecnocrata. Segundo Mauro Guimarães (2004), as estruturas sociais tradicionais são, no processo de modernização, sobrepostas por novas formas de produção resultantes do desenvolvimento tecnológico e urbano-industrial, que insere novas formas de sociabilidade, marcadas pelo sistema de comunicação e transporte (de massa). Isso gera a formação de sociedade orientada pelo valor de mercado, “mercadologizando” as relações tanto em escala micro quanto macro, diga-se em âmbito local, regional, nacional e global. Como resultado desse novo modo de interação social, que é na mercadorização da vida, a degradação ambiental é inerente e inevitável, na medida que, na intervenção do espaço, não se considera a capacidade do meio ambiente de suportar as transformações e de se renovar. Trata-se, assim, de um modelo de desenvolvimento que privilegia interesses econômicos e privados ao invés do coletivo (e, consequentemente, ambiental).  

Entre as análises que discutem a origem da degradação, há argumentos que culpam a pobreza do mundo como responsável pelos problemas ambientais. Mara Medeiros (2001) salienta que isso retrata de uma visão que paira no senso comum, muitas vezes, atrelada a discursos políticos, veículos de comunicação e, até mesmo, alguns ambientalistas e cientistas. No entanto, a autora ressalta que trata de uma visão equivocada, principalmente, porque a pobreza, como vimos acima, é causada e acentuada por uma de sociedade que prioriza interesses privados, de modo que a riqueza, para uns, dá-se sob a miséria de outros. Assim, para supor que a pobreza gera degradação ambiental, é preciso reconhecer que é um fenômeno causado pelas elites, e isso volta para o fato de que o modo de produção não prioriza o coletivo, fechando o círculo vicioso (MEDEIROS, 2001).

É importante destacar que todo esse processo é assimilado e repercutido individualmente por meio de mecanismos que a humanidade cria e reproduz socialmente. Ou seja, como os valores, a moral e a cultura está antes do indivíduo, este assimila por meio da educação e dos processos de socialização. Internalizamos a naturalização da ideia de que podemos extrair da natureza o que for necessário para nossa satisfação, desde a mais simples curiosidades científicas até a questões básicas de sobrevivência, como plantar para comer. Essa noção, baseada na cosmovisão ocidental, passa-nos a sensação de que a natureza existe para servir-nos, ou melhor, servimo-nos dela. Quando começamos a preocupar-nos com a degradação ambiental que causamos, retiramos o caráter ideológico desta noção e transferimos para o indivíduo que não cuida do meio ambiente e que desconecta disso toda a rede social e mecanismos de dominação, os quais vão muito além da ação individual:

As causas da degradação ambiental e da crise na relação sociedade natureza não emergem apenas de fatores conjunturais ou do instinto perverso da humanidade, e as consequências de tal degradação não são apenas do uso indevido dos recursos naturais mas sim de um conjunto de variáveis interconexas derivadas das categorias capitalismo/ modernidade/ industrialismo/ urbanização/ tecnocracia. Logo, A desejada sociedade sustentável suponha crítica as relações sociais e de produção tanto quanto ao valor conferido à dimensão da natureza (LOUREIRO et al 2000, apud GUIMARÃES, 2004, p. 48).

Diante disso, faz-se mister estimular a mudança que é, sobretudo, comportamental. Este comportamento depende da ética. Os problemas das relações sociais e da sociedade com a natureza tem, como ponto principal, a ética. Como salienta Mara Medeiros (2001), a discussão sobre o meio ambiente diz respeito a uma discussão sobre a conduta humana, portanto, os valores que balizam o agir. A relação da humanidade com o meio ambiente na sociedade capitalista coloca a natureza como a parte passiva da qual se deve explorar os recursos e o ser humano como um agente ativo que a explora. Se é verdade que nós, humanos, somos degradadores ambientais por natureza, a questão que se coloca diz respeito, portanto, à noção de que a destruição ambiental significa, cedo ou tarde, a nossa auto-destruição.

Se dimensionar corretamente que a degradação do ambiente está intrinsecamente relacionada às relações sociais e o modo de vida é que naturaliza desigualdades socialmente construídas, é possível perceber que, buscando um outro modelo de relações humanas e ambientais, é possível investir numa relação com a natureza menos predatória, por exemplo, redirecionando o uso de recursos que, atualmente, são desperdiçados pelos privilegiados para as camadas desfavorecidas, bem como criando novas fontes de produção e consumo responsável (MEDEIROS, 2001).

Diante do exposto, embasamos a reflexão sobre essa problemática amparando-nos nas palavras de Elisio Marcio de Oliveira (2006), conclamando a repensar nossos laços sociais e culturais para uma conciliação com nosso meio ambiente em favor da vida:

O projeto de dominação da natureza, como se fosse algo meramente a ser apropriada, tem que ser revertido no sentido de uma interação mais equilibrada. Seria dar um novo sentido filosófico para as ciências, como afirma Carlos Walter Porto Gonçalves, em Um pouco de filosofia sobre o meio ambiente: “É de uma nova concepção científica que a humanidade carece. De uma ciência que restabeleça um diálogo com a filosofia; de uma ciência com consciência. De uma ciência que sabe que saber é poder, o que estabelece ou reinstaura a necessidade de pensar a complexa relação ciência/ética/ política” (OLIVEIRA, 2006, p. 79, grifos do autor).

O autor acrescenta, amparando-se em sua referência, que o distanciamento da humanidade com a natureza na sociedade moderna industrializada gerou uma concepção de um ambiente que se configura como uma tecnosfera. A ciência tirou a poesia da vida, destruindo mitos e toda a construção e referência simbólica que constituíram diferentes culturas. Diante da degradação ambiental e a ameaça real que isso significa para a humanidade (e tudo o que nos cerca), emergia a crise paradigmática atual e, nesse contexto, a revalorização de saberes culturais de povos tradicionais e diferentes filosofias, ou seja, busca-se um retorno a valores que recuperem a dimensão do coletivo, reconhecendo, sobretudo, que o processo civilizatório da modernidade não é o único e nem o melhor, que outras formas de civilização são possíveis e, portanto, nada é inexorável, sendo, antes, instituído no decorrer histórico por ações individuais e coletivas.

O autor continua dizendo que as transformações possíveis dependem de uma nova ética, se é que seja possível identificar uma ética vigente. Uma ética na qual a vida seja o valor maior, sem o qual não é possível refletir sobre dignidade e superar desigualdades que se amparam e sustentam-se em opressões cotidianas. Para isso, é necessário recolocar outros paradigmas, seja do conhecimento, seja das práticas mais corriqueiras nas relações entre os humanos e destes com a natureza. É inevitável, nesse processo, “questionar o sentido da propriedade, do direito de todos e de cada um, dos excessos e das necessidades, dos luxos e das misérias e da equidade social, na perspectiva de um desenvolvimento sustentável, que sustente pelo menos condignamente o ser humano” (OLIVEIRA, 2006, p. 79).

Amparando-se em outra referência, o autor finaliza, salientando o aspecto da ação humana como elemento principal que rege as condicionantes de transformação sócio-ambiental:

O homem não pode ser compreendido fora de suas relações com o mundo uma vez que é um ser-em-situação é também um ser do trabalho e da transformação do mundo. O homem é um ser da práxis, da ação e da reflexão. Nessas relações com o mundo, em razão de sua ação sobre ele, o homem se encontra marcado pelos resultados de sua própria ação. Atuando, transforma; transformando, cria uma realidade que, por sua vez, envolvendo-o, condiciona sua forma de atuar. Não há, por isso mesmo, possibilidade de dicotomizar o homem do mundo, pois não existe um sem o outro (FREIRE, 1975, apud OLIVEIRA, 2006, p. 80).

Bioética

Outro campo derivado da discussão mais ampla pertinente à ética que também aparece com a necessidade de gerar novas respostas diante das transformações sociais é a Bioética. Esta surge tal como outras tantas questões da vida moderna: como um fenômeno que busca responder problemas ligados à revolução científica, especialmente nas áreas biomédicas, combinado à crise de valores devido às transformações sócio-culturais pelas quais a humanidade passou. Cohen (2008) data da segunda metade do século vinte o início das suas discussões, quando a sociedade volta-se para novos problemas filosóficos, científicos, religiosos 3 profissionais mediante a necessidade de repensar valores que já não cabem e não dão conta das novidades biocientíficas e tecnológicas que o século XX viu nascer (COHEN, 2008).

A bioética enquanto campo disciplinar é apresentada por Diniz e Guilhem (2012) como algo inerente às ciências da saúde, especialmente no tocante à relação profissional da saúde-paciente, sendo este profissional tanto um pesquisador das biociências quanto médicos, enfermeiros, etc. As autoras compilam a trajetória deste campo de estudo situando, de modo geral, que as discussões sobre essa temática partem dos casos para as elaborações teóricas e sua perspectiva busca fazer o caminho inverso, partindo das teorias e suas críticas para a reflexão sobre os casos específicos. Mas, de um modo ou de outro, a bioética diz respeito às questões de conflitos morais, os quais surgem na relação pesquisa/atendimento x sociedade/paciente. Nas palavras de Fátima Oliveira:

O objetivo geral da bioética é a busca de benefícios e da garantia da integridade do ser humano tendo como fio condutor o princípio básico da defesa da dignidade humana.  a bioética inicialmente em movimento social que lutava nas ciências biológicas e áreas correlatas é também uma disciplina norteadoras de teorias para o biodireito e para a legislação com a finalidade de assegurar mais humanismo nas ações do cotidiano das práticas médicas nas experimentações científicas que utilizam esses seres humanos. Essa dupla face ciplina em movimento social movimento bioéticos confere a bioética a peculiaridade de ser ao mesmo tempo reflexão sobre as implicações sociais e econômicas políticas e éticas dos novos saberes biológicos e ação objetivando estabelecer um novo contrato social entre sociedade cientistas Profissionais de Saúde governo sobre as questões do presente e as perspectivas de futuro (OLIVEIRA, 1997, p.47-48).

Tendo em vista a complexidade do assunto para lidar com limites éticos do desenvolvimento de pesquisas e no tratamento das diversas espécies, inclusive a humana, encontramos que a Bioética parte de cinco princípios relativos a lidar com problemas vinculados às implicações discorridas acima: o princípio da beneficência; da autonomia; da justiça; da não maleficência; e da proporcionalidade. Pelos nomes, já é possível antever que diretrizes balizam as discussões e perceber que são princípios que se conectam e se complementam. Vamos detalhar caso a caso.

O primeiro, o princípio da beneficência, diz respeito ao bem estar das pessoas, ou seja, busca-se evitar danos e garantir o suprimento de necessidades e interesses daqueles a quem a pesquisa ou tratamento se destina. O segundo, o princípio da autonomia, está ligado à autonomia do paciente, de modo que sejam respeitadas suas crenças e valores morais, ainda que entre em contradição com o tratamento médico. Um exemplo disso pode ser recorrido ao caso da morte do cantor de reggae, Bob Marley, que recebeu o diagnóstico de melanoma, devido a uma infecção em uma unha do pé, sendo aconselhado pelos médicos a amputá-lo, mas o cantor se recusou a esse tratamento, devido a sua filosofia religiosa, rastafari, pela qual entendia que o corpo é um templo sagrado que não deve ser modificado. O terceiro princípio, o da justiça, tem a ver com a distribuição dos bens e benefícios de forma igual em qualquer área da ciência, isto é, trata de um princípio que pode ser problematizado dada a desigualdade social estabelecida. O quarto, princípio da não maleficência, busca assegurar que as pessoas submetidas não sofram danos de qualquer ordem, seja moral, intelectual, cultural, social ou psíquica e espiritual. Por fim, o quinto princípio, o da proporcionalidade, procura equilibrar riscos e benefícios, procurando sempre priorizar os benefícios às pessoas, evitando impactos que deterioram a vida (CÓDIGO DE ÉTICA, 2018).

Em termos de resgate histórico, a Bioética foi pensada por várias estudiosos, dos quais destacamos Potter. Segundo César Augusto Costa (2013), em 1988, Potter estabeleceu a Bioética Global. O autor destaca que o “Prof. Potter entendia o termo global como sendo uma proposta abrangente, que englobasse todos os aspectos relativos ao viver, isto é, envolvia a saúde e a questão ecológica” (COSTA, 2013, p. 35). Esta noção era compartilhada por Engelhardt e foi interpretada de diferentes maneiras:

Alguns autores, como Alastair Campbel e Solly Benatar entenderam o termo global não no sentido de abrangente, desde o ponto de vista interdisciplinar, mas como uma visão uniforme e homogênea em termos mundiais, enquadrando-a no processo de globalização. Ou seja, que seria estabelecido um único paradigma filosófico para o enfoque das questões morais na área da saúde, caracterizando uma nova forma de "imperialismo" (COSTA, 2013, p. 35).

Por conta disso, Potter teria, em 1998, colocado a definição de Bioética Profunda para recuperar o sentido original de sua proposta, sendo utilizada por Peter J. Whitehouse, quando aplicou o conceito de Ecologia Profunda, do filósofo norueguês Arne Naess, à Bioética. Essa proposta abrangente, cunhada por Potter, leva em conta o aspecto humanizador que já vinha sendo defendido por muitos autores. Em 2001, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), através do Programa Regional de Bioética, estabeleceu a bioética como algo relativo ao âmbito da saúde, do ambiente e da vida, portanto, de forma bastante ampla. Daí que o autor menciona que é importante perceber que as características da bioética, para Potter, não pode prescindir dessa amplitude, de modo que, para ele, “as características fundamentais [são] - ampla abrangência, pluralismo, interdisciplinaridade, abertura e incorporação crítica de novos conhecimentos - em todas as suas propostas de definições” (COSTA, 2013, p. 35).

Fátima Oliveira (1997), por sua vez, critica esse humanismo e discorre que a bioética deve colocar-se como uma proposta de reflexão que pretende abarcar todo e qualquer problema das relações humanas, a partir de elaborações filosóficas que busquem a tomada de consciência e que permitam abrir possibilidades de novas interpretações e posicionamentos, os quais gerem comportamentos pautados na ética, especialmente na área das biociências.

A biociência enquanto disciplina (para alguns já é uma ciência e para muitos, apenas uma ética prática) possui um “defeito de origem” – humanismo “acima de tudo” –, a ponto de não incorporar e nem ter ainda compreendido a necessidade de interpenetrar metodologicamente as variáveis sexo/ gênero, raça/ etnicidade e classe social; ela também “trabalha” com o método de análise constituído por um “ser humano” que, como vimos, beira as raias do abstrato.  Isso explica porque são tão endeusado e às vezes compreendidos de uma forma hierarquizada os princípios da autonomia da não-maleficência da beneficência e da justiça. Para muitos a alteridade não é um princípio, talvez um critério para ser usado de forma subjetiva... Diante disso é emergencial viabilizar o alicerce de uma corrente de opinião na bioética que seja laica democrática, popular que assuma a luta feminista, o combate ao racismo e a defesa do desenvolvimento científico. E que, sobretudo, respeite a pluralidade cultural e ideológica das pessoas (OLIVEIRA, 1997, p. 105-106).

O desafio da humanidade em tempos de globalização provocada pelo desenvolvimento da internet, das possibilidades de novas configurações, de novas descobertas e da possibilidade de criar novas soluções para antigos problemas, seja na área da tecnologia ou na área da saúde, impõe considerar a complexa rede de significados e símbolos. Aprender com novos saberes antigos, considerar que hierarquizamos nossas relações, definindo quem pode e quem não pode, o que é certo e o que não é, passa a ser relativizado para o bem e para o mal. Nesse sentido, Cohen (2008) ajuda-nos a pensar como a Bioética pode contribuir para recolocar-nos questões e buscar elaborá-las. Para esse autor, “a Bioética se apresenta nesta tentativa de apreender e compreender o verdadeiro significado do novo, capacitando-nos a uma possível adaptação” (COHEN, 2008, p. 474). Isso é um caminho para que, em expressando um pensamento ético, possamos encontrar pontos em comum, cujo consenso possa ser acordado para a definição de um comportamento moral e adequado a situações específicas. Assim é que o autor sintetiza, dizendo “que estes sejam os motivos de como deveríamos perceber, pensar e agir sob a égide da Bioética” (COHEN, 2008, p. 474).

Articulando a discussão sobre bioética e ética ambiental ou ecologia, Costa (2013) apresenta o ponto central da ética contemporânea: a necessidade de entender o problema de forma holística. O autor coloca que o problema da questão ecológica é bastante complexo, pois envolve não apenas a questão do ambiente em si mesmo, mas é também uma questão que diz respeito a própria vida humana e como esta tem sido conduzida. Portanto, está ligado ao problema do desenvolvimento e tudo o que envolve esse conceito em uma sociedade exploratória. O autor menciona, então, como repensar o modelo de sociedade diz respeito ao próprio desenvolvimento da bioética:

Assim, é urgente criar novos modelos de desenvolvimento, a partir de novos modos de produção-consumo, que respeitem o meio ambiente e reorientem a pesquisa científica, para que se desenvolvam um melhor relacionamento entre homem e natureza (COSTA, 2004). A Bioética contribui nessa mudança, na medida em que, fiel à perspectiva integradora da realidade do ser humano, for capaz de realçar a responsabilidade humana, visto na união entre homem e a natureza. Pois a reflexão bioética com seu discernimento pode contribuir à sociedade a se posicionar de modo mais crítico e construtivo com a totalidade do meio ambiente, na forma de responder ao desafio ambiental, dentro de uma perspectiva integral de homem (COSTA, 2013, p. 43).

Disso se depreende que a disjunção ser humano x natureza, cultura x ecologia, tecnologia x recursos naturais e tantas outras dicotomias resulta de um modo de pensar cartesiano que serviu para o avanço do conhecimento científico e propiciou o desenvolvimento de alta tecnologia modificando, irreversivelmente, o modo como vivemos, incluindo todos os benefícios que isso gerou, isto é, já não cabe mais diante da crise de paradigma que se enfrenta hoje:

O desafio será conseguir que os seres humanos se entendam como uma grande família terrenal junto com as outras espécies e que redescubram seu caminho de volta à comunidades dos seres viventes, à comunidade planetária e cósmica (BOFF, 1996 apud COSTA 2013, p. 42).

Assim, é possível verificar a necessidade de um resgate de valores que recoloquem, portanto, a unidade no sentido de percebemo-nos parte do cosmo, não em um sentido espiritual e muito menos religioso, mas do cosmo como corpo universal, de um planeta do qual dependemos para viver. A ética possibilita nos repensarmos enquanto seres viventes em um mundo também vivente, cujas relações sociais e ambientais precisam ser estabelecidas em convivência mútua.

SAIBA MAIS

A finitude da vida é o consenso entre os filósofos de longa data que define a diferença do ser humano para as outras espécies animais. A razão ou consciência faz do ser humano a única espécie que sabe que é finita, que vai morrer. Para refletir sobre a complexidade da ética em tempos de sociedade pós-moderna, a qual é marcada, aqui, pela expansão quase ilimitada de conexões, conhecimentos e relações possibilitadas pela internet e a cyberciência, sugerimos o documentário Quanto tempo o tempo tem.

Com direção de Adriana L. Dutra, roteiro da diretora junto a Flávia Guimarães, codireção de Walter Carvalho, produção executiva de Cláudia Dutra & Viviane Spinelli, da produtora Inffinito, o documentário apresenta uma série de entrevistas sobre o tempo, a velocidade, a civilização e o futuro. Entrevistados em ordem de aparição no filme: André Comte-Sponville, Marcelo Gleiser, Thierry Paquot, Arnaldo Jabor, Francis Wolff, Luiz Alberto Oliveira, Raymond Kurzweil, Erick Felinto, Stevens Rehen, Domenico De Masi, Arthur Dapiéve, Alexandre Kalache, Monja Coen Sensei, Tom Chatfield, Analice Gigliotti, Nélida Piñon, Max More, Natasha Vita-More, Nilton Bonder.

Trazemos a crítica de Tatiane Reuter (2016) para apresentar e aguçar a curiosidade. Disponivel em: blahcultural.com.

Indicação de leitura

Livro: O homem que sabe

Editora: Civilização Brasileira

Autor: Viviane Mosé

ISBN: 9788520010440

Sinopse: Buscando popularizar a filosofia ou antes e o saber filosófico, Viviane Mosé  em O homem que sabe apresenta uma reflexão sobre a tomada de uma  nova consciência que se oponha à racionalidade ocidental, ou seja, ao pensamento dicotômico, cartesiano, linear. Pensamento este responsável por uma sociedade altamente excludente. A autora, que é também poetisa, defende a necessidade de reinventar o mundo, por meio da crescente e inexorável mudança de valores, a qual diante da característica do nosso tempo se faz mister para a manutenção da vida em todas as dimensões. A filósofa valoriza a produção de filosofia no Brasil, destacando que a dita falta de tradição pode ser o nosso grande trunfo.

Atividade

É válido dizer que a ética muda a cada contexto histórico. Além do mais, os valores e o que é considerado moral alteram-se. O que confere o caráter ético independente das mudanças da história, fazendo a ética “ser ética” em qualquer tempo histórico?

A necessidade de resposta aos novos problema

Incorreta. Isso gera a mudança do que se considera ético.

Os mandamentos do deus.

Incorreta. São valores morais datados do cristianismo.

O valor do trabalho, que dignifica o homem, em qualquer período da história.

Incorreta. O trabalho como um valor é datado do período da contra-reforma e renascimento.

A postura progressista a seu tempo.

Incorreta. É a perspectiva de mudanças sociais e, com elas, a necessidade de novos padrões éticos.

A conduta humana.

Correta. Essa conduta é que vai ser ética ou não conforme seu tempo.

Atividade

De acordo com o texto em Origem da Ética, assinale a alternativa correta.

A ética é um conceito desvinculado de outros conceitos, podendo ser entendida de forma independente.

Incorreta. O conceito de ética é interdependente da noção de valores e moral, mas não se confunde com eles.

A ética está intimamente vinculada à moral, mas não se confunde com ela.

Correta. A moral detém os valores que serão considerados adequados pela sociedade, orientando a noção de uma atitude ética.

A ética é a ideia de fazer o que é certo.

Incorreta. A ética pressupõe a necessidade do equilíbrio e nem sempre o certo está dado nas situações que envolve a ética.

Ética e moral são sinônimos.

Incorreta. A ética precisa da moral, mas não são a mesma coisa.

A ética designa a melhor moral social.

Incorreta. A moral é dada culturalmente a partir do compartilhamento dos valores sociais; a ética é a conduta considerada moralmente aceita.

Atividade

Qual alternativa apresenta características do agente ético?

Será ético o agente que efetuar uma ação moralmente permitida mediante sua vontade livre, consciente e coerente consigo mesmo.

Correta. A moral baliza a ação, mas esta deve ser consciente, autônoma e coerente com seus próprios princípios.

É ético o sujeito que segue as normas morais da sociedade.

Incorreta. A moral baliza a conduta ética, mas não será ético sem o exercício da deliberação racional.

Ético é aquele que age conforme o que é justo, bom e virtuoso.

Incorreta. Para agir assim, requer, antes, a deliberação e escolha que define autonomamente o que vem a ser bom, justo e virtuoso.

Ético é aquele que segue os mandamentos de deus.

Incorreta. Os valores cristãos estabelecem normas morais, mas não permitem a autonomia, condição sine qua non para o agente ético.

Ético é aquele que é capaz de respeitar as diferenças.

Incorreta. O problema dessa alternativa é que em termos se entende a noção de respeito, porque assume-se, aqui, um determinado valor, que é por sua natureza estabelecido culturalmente.

Atividade

Qual a origem da ética ambiental?

O desenvolvimento científico-tecnológico.

Incorreta. Origina novas formas de relação ser humano x natureza.

O pensamento cartesiano.

Incorreta. Originou o modelo de conhecimento científico.

O problema da degradação ambiental.

Correta. A ética precisa responder a novos problemas, neste caso, ambientais.

A revolução industrial.

Incorreta. Possibilitou a transformação da vida humana, como a passagem da vida agrária para urbana.

O capitalismo.

Incorreta. Origina novas relações sócio-políticas e econômicas.

Atividade

Qual alternativa resume os princípios da bioética?

O valor da vida humana sobre a natureza.

Incorreta. A separação cultura x natureza impede a conexão inter-relacional entre ambas.

O valor da natureza.

Incorreta. Natureza é um aspecto da vida e a cultura não pode ser descartada porque é inerente ao ser humano.

O valor da ciência sobre moral.

Incorreta. O desenvolvimento científico requer abrir mão de moralismos, mas não da moralidade.

O valor da vida plena em sua diversidade.

Correta. Fazer o bem significa considerar o bem viver de todas as espécies, não somente a humana, bem como toda a diversidade da vida humana em relação à produção de cultura e as mais diversas cosmovisões, códigos morais e de ética.

O valor dos direitos humanos.

Incorreta. A discussão sobre a preservação de direitos humanos é inerente à ética, mas não pode prescindir de uma análise que leve em conta que humano e natureza são faces da mesma moeda.

Unidade concluída

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