;
Unidade 1


Selecione a seta para iniciar o conteúdo

Introdução

Normalmente, a vida social é vivida, e não pensada. Neste estudo, propomos uma reflexão sobre a vida social, as relações sociais que moldam a sociedade, identificando desde o processo de socialização do indivíduo, em que pesam as noções de costumes, hábitos e virtudes, até às diferentes explicações científicas sobre a vida social, objeto central da Sociologia, para chegar na atual sociedade globalizada.

Tais conteúdos levam o(a) leitor(a) a perceber a peculiaridade da vida humana que, diferente de outras espécies, produz cultura. Essas questões introdutórias da Sociologia permitem extrapolar o senso comum e desnaturalizar ideias tidas como naturais, portanto, imutáveis. Compreende-se o que quer dizer expressões do tipo socialmente construído, que diz respeito a algo que foi produzido pelo ser humano e, como tal, sempre poderá ser modificado.

Os Costumes, os Hábitos, as Virtudes

Ao longo da vida, vamos aprendendo uma série de elementos que nos conduzem nas ações do dia a dia. A internalização desses elementos ocorre em um processo intrínseco à própria vida individual, em que agimos sem pensar, como algo que nos é “natural”. No entanto, a partir dos estudos das Ciências Sociais, especialmente da Antropologia, podemos perceber que se trata antes de normas e valores convencionadas, produzidas e disseminadas culturalmente, ou seja, se as atitudes humanas fossem produto da natureza, elas seriam iguais para indivíduos de toda e qualquer sociedade, como ocorre com nossos aspectos fisiológicos.

Por exemplo, pessoas de qualquer sociedade sentem fome ou sono, isso é natural, é da nossa natureza biológica, mas a forma como nos alimentamos ou dormimos difere de uma sociedade para outra. Há sociedades em que as pessoas dormem em redes; outras, em camas. Há aqueles que, costumeiramente, utilizam talheres para fazer as refeições; outros, por sua vez, usam outros tipos de utensílios, como cumbucas e tigelas. Há também quem se alimente com as mãos. Alguns têm o hábito de sentar-se à mesa, outros seguram pratos na mão, em pé, agachados, ou usam o colo.  Há determinadas regras em algumas sociedades, ou partilhadas em apenas determinados grupos de uma mesma sociedade, como símbolo de distinção, a etiqueta. Nessas regras, existe, por exemplo, um tipo de utensílio para cada alimento, uma ordem sequencial da apresentação dos pratos, uma forma de se portar à mesa. Em alguns lugares, arrotar à mesa na frente de outros é deselegante; em outros, é elemento fundamental, sendo ato desrespeitoso não o fazer.

Os exemplos sobre as maneiras de dormir e se alimentar demonstram a diferença da concepção do que é natural, ou seja, biológico, e do que é cultural, socialmente construído e variável, conforme cada sociedade ou grupo social, ainda que essas instâncias não se separem na prática. O ser humano é, pois, esse conjunto de natureza e cultura que o torna um ser social. Cultura, aqui, deve ser entendida como uma série de fatores que, tomados em conjunto, configuram um modo de vida coletiva, ou seja, aquilo que caracteriza um agrupamento humano, uma vida social, ou ainda uma sociedade, com base em aspectos que dizem respeito a algo derivado da produção humana, ou seja, que não é derivação natural de aspecto orgânico-biológico, mas, sim, produto da ação humana.

Para exemplificar, utilizaremos uma tipologia usada por Samuel Koenig (1970), apoiado no trabalho de David Riesman. O autor apresenta como a cultura, entendida como colocado acima, permitiu a classificação de três tipos de sociedade baseado no padrão cultural, ainda que seja necessário ressaltar que há diversas variações e exceções em cada um dos tipos classificados, mas que, para essa tipologia, foram identificados padrões de comportamento profundamente enraizados, são eles:

Segundo Riesman, o primeiro, o tipo de sociedade de determinação tradicional, é aquele no qual o costume, transmitido através das gerações, é a força predominante; o contrôle sôbre os membros da sociedade é conseguido pela pressão da tradição. O segundo, a sociedade introdeterminada, é marcada por grande acumulação de capital, alta produtividade e expansão colonial. Os indivíduos estão empenhados numa luta incessante para conseguir objetivos definidos (principalmente independência, poder, riqueza e prestígio) e mostra-se grande aprêço [sic] pelo homem que vence por esfôrço [sic] próprio. O terceiro, a sociedade extrodeterminada, caracteriza-se pela industrialização, urbanização e burocracia, com ênfase mais no consumo do que na produção. O ajustamento a situações e circunstâncias, socialização, conformidade às regras do jôgo [sic] e manipulação dos outros estão entre as principais atividades dos membros dêsse tipo de sociedade (KOENIG, 1970, p. 76).

As atitudes humanas ocorrem com base em determinadas normas, símbolos e valores compartilhados no grupo social. Adolfo Vazquez (1984), separando os conceitos de “moral” do que o autor chama de “trato social”, explica da seguinte forma:

Existe também outro tipo de comportamento normativo [...] dentro do qual figuram as várias formas de saudação, de uma pessoa  abordar outra, atender a um amigo ou convidado em casa, vestir com decoro, etc., bem como as diferentes manifestações de cortesia, tato, etiqueta, cavalheirismo, pontualidade, galanteria, etc. É, como vemos, uma série de atos, regidos pelas regras ou normas de convivência correspondentes, que abrangem o vasto campo - muito extenso no cotidiano – de convenções sociais ou de tratamento social. (VAZQUEZ, 1984, p. 97, tradução nossa).

A esse processo de internalização desses elementos, que vão conduzir o indivíduo no âmbito social, chamamos de socialização, que Berger e Luckmann (2003) definiram como algo relativo a um longo, vasto e sólido processo de introduzir um indivíduo no mundo material, exterior, de uma sociedade ou de parte dela. Dito de outra forma, “[...] socialização significa o processo pelo qual um indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se e age de acordo com os seus [folkways e mores]” (KOENIG, 1970, p. 70), em tradução livre, pode ser entendido como agir conforme as maneiras e os costumes de seu povo. Sendo assim, a socialização é o processo em que um ser vai aprendendo como viver na sociedade da qual faz parte, internalizando hábitos, costumes, linguagem, signos, símbolos e valores que compartilhados com os outros estabelecem a forma da relação social.

Como isso ocorre? Segundo Samuel Koenig (1970), desde que nasce, a criança vai assimilando regras de convivência por meio da atuação das pessoas à sua volta, de modo geral observando e imitando inicialmente mães e pais. Depois, as pessoas do círculo mais estreito, que normalmente são da família, as pessoas com quem convive, e isso vai se ampliando gradativamente envolvendo círculos mais amplos: outros parentes, vizinhos, escola etc. Assim, a criança não tem consciência do que a circunda, mas apresenta interesse por objetos e pessoas, principalmente na mãe, no pai e em outros membros da família. Depois, o indivíduo tem suas primeiras impressões e seu círculo é ampliado para abranger colegas de escola, professores, amigos e várias outras pessoas (KOENIG, 1970).

O autor continua a explicação salientando a importância de todas essas pessoas para o condicionamento do indivíduo. É no círculo mais íntimo que o indivíduo desenvolve a ideia de si mesmo a partir das atitudes dos outros para consigo, ou seja, “[...] a criança forma sua concepção de si mesma, e mais tarde do tipo de pessoa que é, através de como imagina que os outros a consideram” (KOENIG, 1970, p. 71-72). Utilizando o termo de “definição da situação” de W. I. Thomas, Koenig (p. 72) afirma que “[...] a situação em que a criança se encontra já foi definida para ela, e as regras, segundo as quais deve comportar-se, são determinadas pelo grupo em que nasceu”. Citando Thomas, esse processo se manifesta por meio de desejos e atividades inibidos, da instrução formal, dos sinais de aprovação e desaprovação, dentre outros, que “ensinam” o código de sua sociedade (THOMAS apud KOENIG, 1970, p. 72).

Quando adulto, o indivíduo adquiriu uma personalidade, que pode ser entendida de modo geral como o conjunto de hábitos, atitudes e valores com determinados traços. Um certo padrão de comportamento característico de uma pessoa, pode determinar o papel que desenvolverá socialmente. Essa personalidade se desenvolve sob os moldes da cultura, ou seja, dos condicionamentos sociais. Segundo Koenig (1970), não se duvida que as exigências da sociedade sobre os indivíduos acabam determinando, em grande medida, o tipo de personalidade de cada um. O autor acrescenta, porém, que seria exagerado afirmar que a cultura gera uma personalidade estereotipada, haja vista que, em uma sociedade complexa e muito heterogênea, sempre haverá variações, e mesmo em sociedades menos complexas, também aparecem personalidades diferenciadas devido à impossibilidade de características hereditárias serem direcionadas e mesmo porque a influência cultural afeta os sujeitos de diferentes maneiras. De toda forma, a sociedade vai operar como delimitadora, ou seja, impondo os limites em que a personalidade se desenvolverá.

Diante disso, voltamos à nossa análise para os costumes na medida em que podemos entrever que se tratam de moldadores da sociedade, tanto do ponto de vista individual, uma vez que serão reproduzidos pelas pessoas cotidianamente, quanto do ponto de vista social, dando “forma” à sociedade da qual se faz parte. A antropóloga Ruth Benedict (2000) discorre sobre o assunto, salientando que os costumes definem a maneira como o mundo será interpretado pelo agente social, de tal modo que até sua subjetividade mais reflexiva estará pautada em estereótipos determinados por seus costumes, portanto o indivíduo, sendo fruto do meio social em que vive, terá sua subjetividade também formada socialmente. Seus preconceitos dizem respeito às noções incutidas no processo de socialização desde a tenra idade. Assim, concebe o mundo “[...] condicionado por um conjunto definido de costumes, e instituições, e modos de pensar [...] até os seus conceitos do verdadeiro e do falso são ainda referidos aos seus particulares costumes tradicionais” (BENEDICT, 2000, p. 14).

Segundo o autor, discutindo o papel da antropologia em defesa dos estudos culturais, afirma que o objetivo do antropólogo é investigar e buscar entender as culturas, suas transformações, as diferentes formas com que se manifestam e a maneira com que os costumes dos diferentes povos funcionam na vida dos indivíduos. Por meio desses estudos, é possível perceber como os hábitos individuais são moldados por costumes sociais, cujos valores são convencionados e atribuídos socialmente. De acordo com a autora, a história de cada indivíduo é, sobretudo, uma conformação desse ser aos padrões transmitidos pela tradição na sua comunidade a cada geração. Desde o nascimento, são os costumes das pessoas de onde vive que moldam sua conduta e interferem nas suas experiências. Assim, quando inicia as primeiras manifestações de interação com os outros, o faz como um reflexo da sua cultura, de modo que, quando adulto, suas ações são pautadas por hábitos que são da própria cultura, suas crenças e limitações espelham as crenças e limitações da própria cultura (BENEDICT, 2000).

Nesse sentido, as virtudes podem ser entendidas como valores atribuídos pelo grupo social a que se pertence. Adolfo Vazquez (1984) coloca que, quando se fala em valores, pensamos em termos de utilidade, bondade, beleza e justiça; no pólo oposto, estariam a inutilidade, maldade, feiúra e injustiça. De qualquer modo, o que se pode entender é que são valores atribuídos a coisas, objetos ou até à conduta humana. Mais à frente, o autor explana, especificamente, sobre virtude no contexto da discussão sobre moral. Segundo o autor, a personalidade não é inata, assim, pode adquirir várias características e qualidades morais pela educação e do convívio social, “[...] são as que tradicionalmente foram designadas com o nome de virtudes” (VAZQUEZ, 1984, p. 200, grifo do autor, tradução nossa).

O autor explica que “[...] a virtude implica uma disposição estável ou uniforme para se comportar moralmente em um sentido positivo; isto é, querer o bem. O oposto a ela é o vício como uma disposição uniforme e contínua para querer o mal” (VAZQUEZ, 1984, p. 200, grifo do autor, tradução nossa). Essa disposição estará sempre, de alguma maneira, atrelada ao ambiente social, haja vista que a cultura, como expressão desse conjunto de condicionantes (valores, sentidos, significados códigos) compartilhados no grupo social, orientam as ações individuais.

Sendo assim, a responsabilidade das ações individuais tem relação direta com a responsabilidade da própria sociedade, assim como seu oposto e o seu inverso, ou seja, a irresponsabilidade individual é, também, relacionada com a sociedade em que se vive, bem como a sociedade é a expressão dos seus indivíduos em ação. Desse modo, podemos refletir sobre costumes, hábitos e virtudes dos indivíduos na sua relação com o conceito de cultura e buscar perceber os limites desses conceitos tratados no âmbito da ação individual, visto que o indivíduo é sobretudo um ser social.

REFLITA

Adolph Eichmann foi um dos nazistas principais na organização do Holocausto. Segundo a filófosa Hanna Arendt, que acompanhou o julgamento de Eichmann, o que moveu as ações desse nazista não teria sido o ódio contra a comunidade judaica, mas simplesmente o cumprimento de ordens da sociedade em que vivia, a sociedade alemã nazista. A análise de Hanna Arendt sobre Adolph Eichmann está de acordo com o exposto? Nessa perspectiva, o nazista torna-se isento de responsabilidade pelo que fez? É possível separar o indivíduo da sociedade? Como poderíamos responsabilizar a sociedade pelo mal que perpetra?

A Explicação Sociológica da Vida Coletiva

Em Convite à filosofia, Marilena Chauí apresenta a distinção entre uma atitude costumeira, ou seja, de senso comum, e uma atitude científica para explicar o que caracteriza a ciência. Segunda a filósofa:

Antes de qualquer coisa, a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, ali onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas. Sob quase todos os aspectos, podemos dizer que o conhecimento científico opõe-se ponto por ponto às características do senso comum (CHAUÍ, 2000, p. 317, grifos da autora).

Isso é importante para entendermos que a explicação da vida social ou da sociedade pode ser desenvolvida sob diferentes perspectivas, o ponto de vista da ciência está marcado pelo questionamento, observação e investigação que orienta explicações a partir de determinados critérios. Desde a antiguidade greco-romana, a filosofia esteve marcada pelo objetivo de buscar um conhecimento que levasse à verdade. No decorrer do tempo, tendo por base os filósofos modernos ocidentais e em um contexto sócio-histórico em que o pensamento estava vinculado à religião cristã, foram sendo estabelecidas uma série de critérios que levaram depois à constituição do método científico.

Segundo Chauí (2000), os pensadores modernos processaram três tarefas: 1) separaram a fé da razão, estabelecendo que se tratam de conhecimentos de âmbitos diferentes e sem nenhuma relação entre si; 2) buscaram explicar como a alma-consciência pode conhecer o corpo, ou seja, as ideias sendo imateriais como a alma, esta pode intelectualmente representar o corpo de maneira abstrata e, assim, conhecê-lo; e 3) puseram em evidência a ideia de controlar a vontade e evitar o erro por meio do exercício de fortalecer a razão e o pensamento.

Desse modo, acessar o conhecimento passa a ser uma preocupação que, para aqueles filósofos, depende de um exame minucioso, a começar pela relação entre sujeito e objeto do conhecimento. Boaventura Sousa Santos (2008) chamou a isso de “modelo de racionalidade”, o qual emergiu na chamada revolução científica, século XVI, desenvolvendo-se nos séculos seguintes, preponderantemente no âmbito das ciências naturais, estendendo-se, no século XIX, para as ciências sociais que emergiram no cenário sócio-histórico e científico. O autor descreve esse modelo a partir das principais características do que considera o “paradigma científico dominante”. Segundo Santos (2008), a ciência, a partir da das transformações pelas quais a sociedade europeia vinha passando na Idade Média, as quais culminaram com as ditas revoluções, foram se constituindo com uma nova cosmovisão, de maneira que os filósofos modernos questionam toda e qualquer forma de dogmatismo e autoridade no tocante à atividade do “conhecer”, que deve ser uma busca pela verdade, que se dá pela observação e experimentação rigorosa e ordenada dos fenômenos naturais. Isso seria possível por conta do rigor das medições que, por sua vez, permitem dividir e classificar, podendo depois serem estabelecidas as relações sistemáticas entre as partes separadas. De acordo com esse modelo de racionalidade, esse processo levaria ao conhecimento verdadeiro sobre o fenômeno estudado (SANTOS, 2008).

Para o que pretendemos aqui é importante, por ora, perceber que emerge, nesse momento, a questão do conhecimento como fruto de um processo científico. Para a Filosofia, torna-se fundamental o processo pelo qual se chegará ao conhecimento, começando pelo exame da própria capacidade que os seres humanos têm para atingir o conhecimento, passando pelo entendimento de si mesmo como alguém que pode conhecer e o próprio sujeito do conhecimento, ou seja, aquele que conhece e produz conhecimento. Há, portanto, a separação do externo e interno, concreto e abstrato, e a relação que se estabelece entre essas partes. A teoria do conhecimento é estabelecida e se debruça sobre “[...] a relação entre o pensamento e as coisas, a consciência (interior) e a realidade (exterior), o entendimento e a realidade; em suma, o sujeito e o objeto do conhecimento” (CHAUÍ, 2000, p. 143).

É na emergência da preocupação de investigar os fenômenos, a partir de rígidos critérios que permitiriam conhecê-los de fato, que nasce a ciência tal como entendemos hoje. A ciência aparece apartada do senso comum e se coloca, ou antes é percebida, em posição hierárquica superior por pretender que seu resultado –  o conhecimento produzido –, sendo fruto de um trabalho racional, baseado em pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas, permite chegar à verdade sobre a realidade estudada. Muito diferente do senso comum que baseia o conhecimento das coisas em seus hábitos, costumes, crenças tradições e preconceitos (CHAUÍ, 2000).

Com base no modelo racional de investigação científica, foi surgimento as reflexões sobre a vida social, o que levou ao aparecimento da ciência da sociedade: a Sociologia. Dessa forma, buscaremos explanar a vida coletiva como objeto científico, ou seja, a realidade social vista como um objeto de estudo, no qual se debruçam as investigações das Ciências Sociais.

Sociologia: uma ciência

A partir da ideia de ciência que separa sujeito (pesquisador/cientista) e objeto (fenômeno estudado) de um estudo, o objeto da sociologia pode ser entendido a partir do conceito de contexto social, em caráter genérico, utilizado por Cristina Costa (2010, p. 11): “Conjunto de condições de vida coletiva que caracterizam uma sociedade, em determinada época e lugar, tais como forma de poder, sistema produtivo e tipo de organização social. Tais condições influenciam a dinâmica da vida social e o desenrolar dos acontecimentos”. Esse contexto, contudo, pode ser analisado de diferentes formas, ou seja, por distintos métodos.

E por que estudar a sociedade?

Na esteira do que foi colocado acima sobre a teoria do conhecimento e, antes disso, sobre o processo de desenvolvimento da ciência moderna, é possível notar que o desenvolvimento da razão e do pensamento vai estabelecendo grande impacto na vida social, do qual decorre um novo patamar em que as transformações sociais geram um processo dialético de teorização como produção de conhecimento sobre si mesmo, cujo resultado impulsiona a novas transformações da vida humana e social. A partir do marco científico moderno, a diferença em relação às sociedades pré-modernas é que a reflexão sobre a existência humana se estabelece sobre rígidos critérios que permitem um salto de conhecimento. Ao final das contas, conhecer é uma atividade humana que se faz do agente humano para e sobre si mesmo. Não se sabe exatamente onde começa nem onde termina, ou seja, quais os limites para a curiosidade do ser humano sobre si mesmo e sobre a vida como um todo, mas é possível dizer quando se torna fruto de uma investigação sistematizada. De acordo com Fernandes (1960), sobre a constituição da Sociologia como disciplina científica, pode-se dizer que “[...] essas indagações começam a adquirir consistência científica no mundo moderno, graças à extensão dos princípios e do método da ciência à investigação das condições de existência social dos seres humanos” (FERNANDES, 1960, p. 11). É sabido, portanto, que o homem sempre foi objeto de questões míticas religiosas e filosóficas e da curiosidade humana, relativas à origem, à vida e ao destino da humanidade.

Essa curiosidade torna-se ainda mais evidente e podemos dizer, necessária, na medida em que o processo histórico complexifica as relações humanas ao redor do mundo impelindo a uma busca não somente por explicar diferentes contextos, mas também por saber lidar com as relações interculturais que vão se estabelecendo no decorrer. Há, ainda, que se chamar a atenção para o fato de que tanto as relações quanto as explicações científicas sempre estiveram marcadas e estabeleceram relações desiguais de poder.

A própria definição das bases científicas se estabelece a partir de um processo histórico que engendrou irreversíveis transformações na paisagem social ao redor do mundo. As grandes e significativas mudanças nas relações sociais ligadas a esse processo dizem respeito, sobretudo, à industrialização e ao colonialismo europeu, que subjugou diferentes e inúmeras civilizações, perpetrando a imposição de sua forma de sociabilidade a todo canto do mundo em que atracou. É a noção de ciência desenvolvida por europeus a partir de ideias etnocêntricas que se estabelece os critérios científicos para se estudar as sociedades, de tal modo que, diante de tantos e tão diferentes povos com que se depararam em suas expedições exploratórias, que os primeiros pensadores, daquilo que veio a ser definido como o campo da Sociologia, preocuparam-se em tentar explicar, fazendo antes justificativas com julgamento a partir de suas crenças, sobre as diferenças e as desigualdades sociais, ou seja, na ânsia de expandir o capitalismo e sua dominação pelo mundo, os europeus se colocaram como critério de análise, identificando-se a si mesmo povos superiores e justificando a “inferioridade” cultural dos demais, a partir de valores do próprio europeu, com um exercício de observar a exterioridade e deduzir pela razão, sem considerar que o exercício dessa razão passa, necessariamente, pelos valores culturais previamente internalizados (COSTA, 2010).

Nesse sentido, Florestan Fernandes (1960) nos adverte que seria, assim, desnecessário e inútil retirar a Sociologia de suas condições histórico-sociais de existência, visto que foram nessas condições que ela se tornou possível e intelectualmente necessária. O autor acrescenta que essa ciência aparece antes como “forma cultural de concepção de mundo”, para só depois se dar como explicação científica. Isso significa que a Sociologia é, antes, um modo de conceber a vida social, dadas a circunstâncias da complexificação das relações sociais frente às transformações do mundo, vendo emergir as sociedades industriais e o sistema de classes, no modo de produção capitalista. É sobretudo como fruto das exigências de explicação dessa nova ordem mundial que o pensamento sociológico erige, ele mesmo, como reflexo dessas transformações. Fernandes (1960) ressalta que os próprios fundadores dessa disciplina buscaram, por meio das explicações sociológicas e científicas, os meios de ação prática para transformação da sua realidade social, demonstrando o caráter dialético desse contexto.

Diante do exposto, não há “a” explicação sociológica da vida coletiva, mas esta pode assumir inúmeras explicações a depender do ponto de vista de quem a analisa. É certo, porém, que o momento histórico pelo qual atravessava a Europa e, principalmente, a França favoreceu o estudo científico da sociedade, momento este em que houve ampla difusão do socialismo, em uma época em que o movimento operário foi se consolidando como força social, e a França vivia um período de crise constante. Tal contexto estimulou o estudo das bases em que se assentavam a ordem social, buscando refletir sobre em termos seria possível repactuar a condição social (COSTA, 2010)

A seguir, apresentaremos três explicações clássicas das Ciências Sociais, a primeira delas, de Emile Durkheim, é que é importante levar em conta que sua formação judaica “[...] favorecia a análise dos laços comunitários e da coesão social” (COSTA, 2010, p. 38). A segunda, uma breve abordagem sobre os conceitos marxistas para explicar a sociedade. E por fim, a terceira, de Max Weber e seus postulados.

Émile Durkheim (1858 – 1917)

Para Durkheim, a sociedade é um organismo em adaptação, emprestando das Ciências Naturais o conceito de organismo (como um organismo biológico). O autor entendia que a sociologia tinha por objetivo não apenas explicar a sociedade, mas encontrar soluções para a vida social, considerando que, para ele, o objetivo da vida social seria estabelecer a harmonia entre os partícipes da sociedade, assim como desta em relação a outras sociedades. Essa harmonia seria possível atingindo um consenso social, de modo que a sociedade, vista como um organismo social, seria um organismo saudável, na medida em que essa estrutura social harmônica garantisse a generalidade dos fatos (COSTA, 2005).

O conceito básico do autor para as explicações sociológicas é o FATO SOCIAL composto por três características: coerção social, exterioridade e generalidade. Em conjunto, essas características definem o fato social como algo que existe fora e sobre o indivíduo, ou seja, é algo que, sendo social, antecede a existência do indivíduo e existe independente da sua vontade ou ação, além de lhe infligir uma pressão coercitiva. A primeira característica, a coerção social ou coercitividade do fato social, está ligada à pressão que exercem sobre os indivíduos para enquadrá-los nas regras sociais, cuja adequação não depende da vontade ou da escolha individual. A outra característica, a exterioridade dos fatos sociais, diz respeito ao aspecto de que eles existem antes e depois da existência de um determinado indivíduo, de uma sociedade, e atua sobre esse a existência desse indivíduo que é um ser daquela sociedade. E por fim, a generalidade dos fatos sociais refere-se à característica de um fato que ocorre na ou com a maioria dos indivíduos de uma sociedade e, também, em distintas sociedades, ainda que se apresentem de formas diferentes, por essa característica se reconhece nos acontecimentos da vida social sua natureza coletiva, à qual está ligada, por exemplo, aos costumes, às crenças e aos valores compartilhados pelo grupo/sociedade.

Tal como a biologia fazia com a classificação e comparação dos sistemas morfológicos das espécies animais, Durkheim tributário da corrente positivista, orientava-se pela ideia da morfologia social com o intuito de comparar diferentes sociedades a partir das características dos seus sistemas sociais. Com isso, o autor classificava as sociedades na lógica de solidariedade social, conforme a divisão social do trabalho em que a solidariedade mecânica constituiria um estágio inferior de sociedade, e a solidariedade orgânica, um estágio mais evoluído.

A solidariedade mecânica constituiria a relação entre indivíduos que se manteriam mais autônomos e pouco dependentes dos demais no tocante à divisão social do trabalho, ou seja, em sociedades pré-capitalistas, o trabalho se dá de forma mais independente entre os indivíduos, cada qual, desempenha suas tarefas a seu modo e no seu tempo, sem que isso implique no trabalho do outro, de tal modo que os vínculos sociais se desenvolvem mais pelos valores da família, religião, tradição e costumes. Já nas sociedades capitalista, a solidariedade orgânica aparece como o elemento que faz os vínculos sociais pautados na divisão social do trabalho, na medida em que os indivíduos passam a ser interdependentes para que o trabalho seja realizado. Não são mais os costumes e a tradição que moldam a sociedade, mas sobretudo a forma de organizar e desenvolver o trabalho.

Para a constituição do campo própria da sociologia como ciência, depois do esboçado na Física Social de Comte, Durkheim foi o primeiro a “[...] constituir um todo organizado e sistemático de pressupostos teóricos e metodológicos sobre a sociedade” (COSTA, 2005, p. 83), separando essa disciplina das demais, especialmente da Biologia, Psicologia e Filosofia, a partir da definição do que seria seu objeto próprio de estudo e análise: as leis gerais que regem a vida social.

Karl Marx (1818 – 1883)

A partir do Manifesto do Partido Comunista, de Marx, a história pode ser entendida como a constante tensão entre classes, desenhando a noção dos grupos sociais de cada classe e, então, expondo a consciência das discrepâncias entre elas e a que grupo se pertence. Fazendo isso, o autor propicia ao indivíduo visualizar essas mudanças e se perceber como agente histórico e o papel que cada um pode desempenhar conforme a classe social da qual se faz parte.

Uma vez que essa percepção vem à tona, fica mais evidente a sociedade de desiguais, que na sociedade capitalista (e estamos falando da sociedade que Karl Marx observava, vivendo na Alemanha de meados do século XIX e vendo o que acontecia em países vizinhos, como a França no pós Revolução 1789) compõe-se de um lado da burguesia, proprietária das relações de produção, e de outro, os proletários e sua força produtiva. A relação dialética entre essas classes é em si mesma um paradoxo, porque quanto mais a burguesia arrocha o proletariado, visando maior acumulação de capital, mais o proletariado depende das relações de produção onde empregar sua força de trabalho, para a própria sustentação. Todavia é  também o arrocho que propicia o aumento da tensão entre as classes, estimulando a revolta entre os proletariados.

Em Ideologia e Aparelhos ideológicos de Estado, Louis Althusser apresenta uma síntese da concepção marxista do todo social, apresentando-o como uma estrutura social articulada entre a infraestrutura e a superestrutura, a partir da imagem de um edifício. Na sua base, estaria a fundação social constituída por suas forças produtivas e relações de produção, ou seja, a base econômica, também chamada de infraestrutura. Os andares que se ergueriam dessa base e seriam, de acordo com o autor, as instâncias do âmbito jurídico-político (o Estado e as leis), de um lado, e a ideologia (tomada aqui no amplo sentido, como fala Karl Deutsc (1984), do mapa de ideias que orientam as ações, podendo ser de ordem religiosa, moral, política, jurídica etc.) de outro, compondo por sua vez a chamada superestrutura. A imagem do edifício, segundo Althusser (1980), sendo metáfora, deseja chamar atenção para o que a imagem pode revelar: que nenhuma superestrutura pode manter-se no alto sem estar amparada por uma infraestrutura que a sustente.

Temos, a partir desse modelo, uma imagem da sociedade que se estabelece, portanto, por meio da sua base econômica. Assim, em uma sociedade capitalista, essa base se traduz na exploração da classe trabalhadora que vive da sua força de trabalho pela classe burguesa que detêm a propriedade dos meios de produção. A relação de produção nesses moldes requer uma espécie de consentimento dos trabalhadores para que sejam explorados pela classe burguesa, que também se vê legítima de assim o fazer, isso se dá, na explicação de Marx, por meio da superestrutura que justifica essa estrutura produtiva e garante sua continuidade.

Diferente de outros sociólogos, Karl Marx não se preocupava em detectar a “saúde” ou “normalidade” de uma sociedade. Para o autor, as relações de conflito constituem a sociedade, sendo da dinâmica desses conflitos que vão surgindo as mudanças sociais. Marx não identifica o que Durkheim colocava como disfunções sociais, ao contrário, identificava em processos de luta, revolução, exploração e contradições, algo que é próprio da vida social, portanto inerente à sociedade, aparecendo na história conforme seu movimento, como sintetiza sua célebre frase:  “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” (MARX, 1852, p. 1).

SAIBA MAIS

O filme Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin, retrata o conceito de infraestrutura de Marx, ou seja, a relação de exploração da classe trabalhadora pela classe burguesa, a partir de uma crítica contundente, sarcástica e irônica ao modo capitalista de produção que molda a vida social. A obra está disponível, com legenda em português e dublagem em espanhol, em: youtube.com.

Max Weber (1864 – 1920)

Diferente dos outros dois autores clássicos da sociologia, Max Weber enfatiza a análise das ações individuais que confluem para o “todo social” quando estas ações são dotadas de um sentido, utilizando, para isso, as categorias de ação social e relação social. Assim, a sociedade, para esse autor, seria o resultado de interações sociais.

Para ele, não há oposição entre indivíduo e sociedade, e não haveria, portanto, uma coerção social sobre o indivíduo (como o fato social durkheimiano ou a superestrutura marxista), porque a sociedade, nas suas normas, manifesta-se na medida em que se tornam concretas pelas ações dos indivíduos, que agem levados por impulsos orientados, seja pela tradição, por uma escolha racional, seja por desejos oriundos das emoções. Weber entende que a ação social permite desvelar o sentido que transparece pelo motivo que impulsionou a ação. Como esse motivo leva em conta que o indivíduo age a partir da ação e reação de outros indivíduos, o sentido que adquire essa ação revela o aspecto social. Esse autor, então, para explicar as sociedades sociologicamente, tem por principal objeto de investigação a ação social.

Assim, Weber se concentrava em uma análise de processos históricos para explicação sociológica da vida social, mas descartava qualquer noção pautada em determinismos e/ou processos de estágios evolutivos: “Ao cientista compete compreender o sentido das diferentes ações sociais e prever as suas consequências, muitas das quais imperceptíveis para os próprios agentes” (COSTA, 1997, p. 52). Mesmo sendo individual uma ação tomada, ela envolve a ação de outros, caracterizando a vida social.

Por outro lado, Weber distingue ação social de relação social. Para que se estabeleça relação social é preciso que o sentido seja compartilhado. Por exemplo, um sujeito que pede uma informação a outro estabelece uma ação social: ele tem um motivo e age em relação a outro indivíduo, mas tal motivo não é compartilhado; portanto, não é uma relação social. Numa sala de aula, em que o objetivo da ação dos vários sujeitos é compartilhado, existe uma relação social. Pela frequência com que certas ações sociais se manifestam, o cientista pode conceber as tendências gerais que levam os indivíduos, em dada sociedade, a agir de determinado modo (COSTA, 1997, p. 52).

A partir de alguns postulados, Weber discorreu sobre os conceitos de ação social e relação social, conforme seguem  os excertos retirados de Weber (1960, p. 139-144):

  • “A ação social orienta-se pelas ações dos outros, que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras”.
  • “Nem toda espécie de ação é ‘social’ no sentido aqui sustentado”.
  • “Nem toda espécie de contato entre os homens é de caráter social”.
  • “A ação social não é idêntica”.
  • “Por “relação” social deve-se entender uma conduta de vários – referida reciprocamente conforme seu conteúdo significativo, orientando-se por essa reciprocidade”.
  • “Um mínimo de reciprocidade nas ações é, portanto, uma característica conceitual da relação social”.
  • “Trata-se sempre de um conteúdo significativo empírico e visado pelos participantes”.
  • “Uma relação social pode ter um caráter inteiramente transitório ou implicar permanência”.
  • “O ‘conteúdo significativo’ de uma relação social pode variar”.
  • “O conteúdo significativo que constitui de modo permanente pode ser formulado na forma de ‘máximas’”.
  • “O conteúdo significativo de uma relação social pode ser pactuado por declaração recíproca”.

Enfocando, em suas análises, as particularidades da ação social, Weber se debruçou sobre o estudo da sociedade por uma perspectiva diferente dos outros clássicos mencionados. Sua contribuição permitiu, principalmente, lançar um novo olhar sobre as diferentes sociedades, considerando suas particularidades históricas em pé de igualdade à sociedade ocidental, e não em um viés hierarquizante, tanto quanto salientou o papel da subjetividade na ação social e, consequentemente, na própria pesquisa científica. Ao fazer isso, permitiu impulsionar uma compreensão das ciências humanas em suas especificidades, ou seja, seu objeto de estudo, o ser humano, é peculiar e histórico (COSTA, 2010).

Ademais, cada um à sua maneira, Durkheim, Marx e Weber expuseram explicações de cunho científico sobre as sociedades, tendo como referência “a sociedade” que viviam, em um contexto de desenvolvimento urbano, industrial, científico, tecnológico que se diferiam de tantas outras sociedades com seus modos próprio de viver, própria cultura e seus códigos, símbolos, significados, com sua história, desenvolvendo seus saberes e tecnologias, por outros meios que não aqueles considerados científicos no padrão da sociedade ocidental.

Com o decorrer histórico, mediante o processo de colonização exploratória perpetrada pelas sociedades europeias ao redor do mundo, a sociedade ocidental foi se estabelecendo sobre as demais sociedades, imputando a organização social pautada no capitalismo. Como consequência, inclusive do desenvolvimento tecnológico que culmina na sociedade em rede e o mundo virtual pela internet, assistimos, no século XXI, ao que tem sido chamado de globalização.

A Construção da Sociedade Global

O que é globalização? Ou como podemos entender essa chamada sociedade global? A resposta não é simples, mas partiremos de uma descrição bastante reveladora efetuada por Nestor Canclini (2008), ao tratar da temática do consumo, em relação aos processos de cidadania nesse contexto de mundo globalizado. O autor menciona, antes, que as diferentes nacionalidades, bem como suas respectivas culturas, preservavam-se razoavelmente, com base em um sistema industrial mais homogêneo que garantia a manutenção de certas diferenças e certo enraizamento territorial, à medida em que coincidiam grandemente com os locais onde se produziam e circulavam os bens de consumo. Disso, resultava que o consumo se estabelecia com produtos da própria nacionalidade, acessíveis e mais baratos. Quando alguém podia consumir produtos importados, isso representava distinção porque era sinal de prestígio e muitas vezes significava a possibilidade de adquirir algo de melhor qualidade. De todo modo, esse produto importado era fabricado em outro lugar, com uma nacionalidade específica. Já em tempos de globalização, diz o autor:

Esta oposição esquemática, dualista, entre o próprio e o alheio não parece fazer muito sentido quando compramos um carro Ford montado na Espanha, com vidros feitos no Canadá, carburador italiano, radiador austríaco, cilindros e bateria ingleses e eixo de transmissão francês. Ligo a minha televisão japonesa e o que vejo é um filme-mundo, produzido por Hollywood, dirigido por um cineasta polonês com assistentes franceses, atores e atrizes de dez nacionalidades e cenas filmadas nos quatro países que o financiaram. As grandes empresas que nos fornecem alimentos e roupas fazem-nos viajar e engarrafarmo-nos em auto-estradas idênticas em todo o planeta, fragmentam o processo de produção fabricando cada parte dos bens nos países em que o custo é menor. Os objetos perdem a relação de fidelidade com os territórios originários. A cultura é um processo de montagem multinacional, uma articulação flexível de partes, uma colagem de traços que qualquer cidadão de qualquer país, religião e ideologia pode ler e utilizar (CANCLINI, 2008, p. 31-32).

Nas palavras de outro autor, Milton Santos (2001), o mundo atual se apresenta confuso, visto que, por um lado, tem-se um progresso extraordinário, com suas ciências e técnicas desenvolvendo novos e inúmeros materiais artificiais e, por outro, em consequência do primeiro, uma aceleração vertiginosa da vida contemporânea. De todo modo, é um mundo fabricado pela própria humanidade, ela mesma vítima de suas criações. Nesse processo, o mundo fica confuso e é confusamente percebido, de maneira que explicações mecanicistas não dão mais conta. É sobre esse mundo que a história da humanidade se desenvolve, criando ela mesma a torre de babel em que a vida social globalizada se assenta (SANTOS, 2001).

Como mencionamos, a ideia da globalização está relacionada, intrinsecamente, ao desenvolvimento tecnológico, entretanto, tal como “ideia”, a globalização deve ser entendida em sua forma imaginada ou enquanto discurso que gera essa imagem, a qual não está descolada do processo materialmente verificável. Então, temos que, no fim do século XX, com os avanços tecnológicos e da ciência, assistimos à emergência de uma produção baseada em um sistema informacional, cujas técnicas atuam como elo de uma rede que assegura sua presença em âmbito planetário. Aliado a isso, desenvolveu-se um mercado global na lógica de expropriação de trabalho e acumulação de capital, ou seja, tornou-se possível um sistema financeiro universal que permite impor a qualquer canto do globo uma “mais-valia mundial”. Nesse contexto, tempo e espaço parecem desaparecer, tudo acontece imediatamente, aqui e agora, a qualquer momento e em qualquer lugar (SANTOS, 2001).

Bom, se essa descrição traz os aspectos materiais observáveis da globalização, como podemos entender a globalização como discurso? Milton Santos (2001) nos orienta a refletir a partir da perspectiva da dominação, levando em conta que a história é feita pelos homens. Nesse sentido, se a velocidade/tempo/informação é a marca da vida social global, isso está no controle daqueles que detêm o discurso ideológico, o qual, por sua vez, gera a naturalização de desigualdades, pautadas em exclusão para uns e privilégios para outros. Trazendo à tona a questão do poder, Milton Santos salienta que a globalização tal como se apresenta é uma globalização perversa. O discurso da globalização coloca em debate novamente a ideia de universal, do que é comum a todos porque é acionado a qualquer tempo e em qualquer lugar, sem considerar que isso não se dá de modo homogêneo, ou seja, sem considerar as diferentes posições dos atores, mesmo em escala global.

Nos termos da dominação entre povos que historicamente é contada pela ótica dos impérios, poderíamos dizer que estamos diante de um império global, cuja natureza é de alta complexidade, requerendo grande senso crítico, especialmente relativo ao tratamento das questões políticas, em que discursos que circulam nesse império assumem formas ideológicas. Posicionamentos universais ou particularistas estão imbricados no jogo de expansão do poder político e econômico em escala global, que se dá na relação entre os Estados-nação e, internamente, na relação destes com o império (RIBEIRO, 2003).

Tratando dos usos da categoria “direitos humanos” e sobre a questão da(s) “cultura(s)” acionados em determinados contextos de disputas hegemônicas do mundo global, Gustavo Ribeiro (2003) apresenta a tensão corrente entre situações particularistas e universais, nas quais os atores lançam mão de discursos cujo valor intrínseco é universal, relativizando-os para um uso instrumental particularista ou para se estabelecer como hegemonia. O autor ressalta que o uso de particularismos quando se trata de direitos humanos pode gerar diferentes implicações, ora querendo se firmar como algo que é universal, ora se colocando como algo próprio da diversidade e, por isso mesmo, sendo diferente do que universal e válido porque é contra-hegemônico. De uma maneira ou de outra, trata-se de forças em jogo pela disputa de poder.

Notemos que o apelo particularista na questão dos direitos humanos pode ter diferentes implicações. Quando evocado como nos exemplos dados no âmbito internacional pode significar tanto: desde a posição norte-americana –“direitos humanos são o que ‘nós’ definimos e, uma vez que exercemos hegemonia global, nossa definição é universal”; desde a posição chinesa [...] – “direitos humanos variam de acordo com contexto sócio-político-cultural, portanto não podem ser impostos universalmente”. Vê-se que a evocação particularista tanto poder ser feita para exercer hegemonia quanto para contrapor-se a ela. A diferença é que no caso norte-americano, o particularismo claramente pretende ser um universalismo (daí a sua transformação em instrumento de hegemonia), enquanto no caso chinês, o particularismo desemboca em uma postura relativista onde, ao menos no cenário internacional de hoje –internamente ao Estado nação chinês o assunto é diferente– não se pretende, ou não se pode pretender, transformar um particular em universal (RIBEIRO, 2003, p. 230-231).

Além desse aspecto, a outra discussão que ascende no tema da globalização seria a extinção das diferentes culturas, à medida em que o mundo globalizado tenderia a homogeneizar todas as relações ao redor do globo e a transnacionalização levantou a questão do fim das nacionalidades, dos Estados-Nação. Os estudos antropológicos vêm demonstrando, no entanto, que isso não ocorre de maneira tão simples e, ao contrário, tem-se visto um movimento de busca por uma identidade cultural, em um sentido de perceber a si mesmo, único, como um esforço de não se perder em uma existência padronizada e homogeneizada na amplidão do global.

Manuel Castells (2000) chama atenção para o ressurgimento do nacionalismo como reflexo das consequências da era da globalização, em um processo em que a identidade se (re)constrói a partir de uma nacionalidade definida sempre em oposição ao estrangeiro. O curioso é que se observa, historicamente, uma renascença do nacionalismo justamente quando se antevia seu fim em função dos processos de globalização em curso: economia em âmbito global, internacionalização das instituições políticas, o compartilhamento cultural universalizado pela mídia eletrônica, educação, alfabetização, urbanização e modernização, bem como as teorias acadêmicas que atrelaram ao conceito de nações algo como “comunidades imaginadas”, ou seja, a ideia de que as nações, sendo projetos das elites, não teriam se realizado de fato. O autor observa, no decorrer de sua análise, que esse ressurgimento do nacionalismo tem, antes, mais a ver com identidade nacional do que com a defesa de um Estado-Nação. A partir de dois exemplos de agregação e desagregação de Estado-Nação, em função de identidades culturais, Castells (2000, p. 70) afirma que “[...] os atributos que reforçam a identidade nacional nesse período histórico variam, porém, em todos os casos, pressupõem uma história compartilhada ao longo do tempo”.

Em outros termos, Marshal Sahlins (1997), discutindo, em tempos de homogeneização cultural global, o papel da antropologia cujo objeto de estudo fundamental é a cultura, apresenta outra forma de demonstrar que a “aculturação dos povos” não ocorre de fato na medida em que os diferentes povos, ainda que submetidos a uma relação desigual de poder, inserem-se em determinados contextos, como o da globalização, assim como foi no colonialismo, de diferentes formas e a seu modo:

Justamente por participarem de um processo global de aculturação, os povos “locais” continuam a se distinguir entre si pelos modos específicos como o fazem. “A rapidez com que as forças procedentes das diversas metrópoles incidem sobre novas sociedades”, observa Arjun Appadurai, “marca igualmente a indigenização, dessa ou daquela maneira, de tais forças. Isso se aplica tanto a estilos musicais ou arquitetônicos como à ciência e ao terrorismo, aos espetáculos artísticos como às constituições” (1991:5). Vê-se, assim, que a homogeneidade e a heterogeneidade não são mutuamente exclusivas, elas não disputam um jogo histórico de soma zero (SAHLINS, 1997, p. 49).

Citando Friedman (1990), Sahlins (1997, p. 58) continua argumentando que haveria duas tendências constituindo a realidade global, de modo que não ocorreria as visões dualistas e, muitas vezes, tidas como opostas, entre a pluralidade e fragmentação étnica e cultural de um lado e a homogeneização/padronização, o universal, de outro. Esse dualismo diz respeito mais à forma de uma antropologia tradicional, própria do modo de fazer antropológico pautado nas referências de seus clássicos. O que é possível notar, ao contrário, é a existência de um sem-fim de formas de vida social, “sincréticas, translocais, multiculturais e neotradicionais” que o fazer antropológico tradicional não consegue dar conta.

O autor complementa dizendo que mesmo as técnicas utilizadas pela antropologia não servirão sempre, sendo antes adequadas aos seus estudos clássicos, que serviram naquela época e já não se adequam às análises antropológicas necessárias em uma sociedade globalizada. Se a crítica que se pode fazer à etnografia tem pertinência, também é verdade que não se trata do fim da cultura, mas, sim, que para o entendimento desse conceito atualmente, é necessário levar em conta que a cultura assume novas configurações a partir de uma infinitude de variedades cuja complexidade acaba por escapar ao um entendimento demasiado lento (SAHLINS, 1997).

Por fim, retornando a Miltons Santos (2000), para quem a globalização se apresenta como fábula, perversidade ou possibilidade, enfatizaremos este último, a fim de identificar de que maneira o autor levanta questões de transformação social. Para ele, é possível pensar um mundo globalizado mais humano, a partir das mesmas bases técnicas em que se forjou a globalização perversa, desde que colocadas a serviço de uma construção social e política sob novas bases. Empiricamente, o autor detecta fatos indicativos do surgimento de uma nova história, a saber, a multiplicidade de povos, raças, culturas, os quais misturados produzem um sem fim de possibilidades criativas e criadoras, entre as quais a mistura de filosofias que põe em xeque o racionalismo europeu; o dinamismo acelerado pela aglomeração da população em áreas menores, que amplifica a diversificação expondo a olho nu a sóciodiversidade, que emerge por diferentes meios de expressão da cultura popular, a qual antes estava limitada pela cultura de massa (SANTOS, 2000).

Vendo na globalização uma universalidade empírica, Milton Santos (2000) aposta na diversidade interagindo para levar a um estágio progressivo de entendimento mútuo. Segundo o autor, é possível pensar a partir dessas metamorfoses, a possibilidade que se abre a partir da produção de conhecimento indígena, suas imagens, seus discursos e filosofias, em uma vivência, pode elaborar um novo ethos, novas ideologias, novas formas de conceber e fazer política, amparadas num outro pilar: da ideia e da prática da solidariedade.

Indicação de leitura

Livro: Admirável Mundo Novo

Editora: Biblioteca Azul

Autor: Aldous Huxley

ISBN: 9788525056009

Sinopse: Nesse livro, Huxley Aldous retrata uma sociedade futurista, organizada segundo princípios científicos, que rechaça qualquer alusão a questões de tradição. As pessoas são produzidas em laboratório, sendo programadas e adestradas para cumprir seu papel em uma sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento. Vangloriando o avanço tecnológico, processo industrial baseado em linhas de montagem e produção em série, com seu ritmo uniforme e padronização, o autor critica o alto valor atribuído à ciência e à tecnologia na sociedade moderna, ou seja, a sociedade capitalista, industrial e tecnológica, em que a racionalidade se tornou a nova religião, em que a ciência é o novo ídolo, um mundo no qual a experiência do sujeito não parece mais fazer nenhum sentido. O livro, que se tornou um clássico, não é apenas um mero exercício de futurismo ou de ficção científica, retrata, antes, a um olhar que faz refletir acerca do autoritarismo do mundo atual.

Atividade

De acordo com o que diz o texto sobre costumes, hábitos e virtudes, assinale a alternativa correta.

Hábitos são comportamentos individuais adquiridos no processo de socialização e determinados pela sociedade.

Correta. A constituição da personalidade, como fruto do processo de socialização, desenvolve-se sob os moldes da cultura, ou seja, dos condicionamentos sociais. Esta personalidade é entendida no texto como o conjunto de hábitos, atitudes e valores que geram um traço marcante no indivíduo, definindo o papel que desempenhará socialmente.

Virtudes e seu oposto, os vícios, são características naturais dos indivíduos, manifestadas em ações cotidianas nas disposições para fazer o bem ou o mal.

Incorreta. De acordo com o texto, as características naturais são aquelas do âmbito fisiológico, da biologia humana, e não no seu aspecto social.

A diferença entre os costumes e a cultura é que o costume é tradicional e a cultura é atual.

Incorreta. Tanto a cultura quanto os costumes podem ser entendidos como tradicionais ou atuais. No sentido do texto, a cultura é mais abrangente do que o costume, sendo este um componente cultural.

A cultura é o conjunto de costumes, hábitos e virtudes.

Incorreta. A virtude, conforme a definição descrita no texto, é relativa à propensão para fazer o bem, tendo em seu oposto, o vício, que não é algo presente em qualquer cultura, depende, antes, dos valores compartilhados.

Para cada sociedade, existe uma cultura.

Incorreta. A definição de cultura apresenta um caráter geral e coletivo, mas evidencia sua variação no tempo e no espaço, ou seja, em uma mesma sociedade, pode haver variações nos hábitos e costumes em diferentes grupos.

Atividade

“Essa ciência aparece antes como ‘forma cultural de concepção de mundo”. Assinale a alternativa correta sobre essa afirmação de Florestan Fernandes (1960):

Florestan Fernandes está se referindo à Sociologia como uma ciência que é o próprio senso comum.

Incorreta. Em sendo ciência, com seus critérios e métodos de análise, não é senso comum.

Florestan Fernandes está se referindo à Sociologia, comparando-a aos modelos de ciência pré-modernas.

Incorreta. Não há comparação entre diferentes tipos de ciência no contexto referido.

Alternativa: Florestan Fernandes está se referindo à Sociologia como um momento importante da história.

Incorreta. Essa alternativa é insuficiente, pois não explica a expressão “forma cultura de concepção de mundo”.

Florestan Fernandes está se referindo à Sociologia como uma forma que expressa o próprio contexto histórico-cultural da época.

Correta. A ciência da sociedade surge como uma necessidade histórica de explicar as complexidades das transformações sociais do mundo moderno e, ao mesmo tempo, servir de instrumento de ação.

Florestan Fernandes está se referindo à Sociologia como um elemento da cultura do mundo.

Incorreta. O conceito de cultura nessa frase está incorreto, visto que cultura, como conjunto de valores, crenças e hábitos, varia no tempo e no espaço, de modo que não poderíamos falar em uma só cultura do mundo.

Atividade

Assinale a alternativa que corresponda corretamente ao que Durkheim se refere como coerção social, exterioridade e generalidade.

Referem-se às características que compõe o conceito de solidariedade discutidos pelo intelectual na medida em que solidariedade é a base da lógica de sua sociologia.

Incorreta. São elementos relativos ao conceito de Fato Social.

Correspondem ao Fato Social, conceito que explica a solidariedade mecânica.

Incorreta. A solidariedade mecânica é um conceito que trata das diferentes sociedades e corresponde ao tipo de sociedade pré-capitalista.

São três elementos que compõe as características das diferentes sociedades, à medida em que o indivíduo, de modo geral, sofre a coerção social de mecanismos que lhes são exteriores e que ocorre em qualquer sociedade, como exemplo: a língua.

Correta. Conforme o trecho: o conceito básico do autor para as explicações sociológicas é o FATO SOCIAL, composto por três características: coerção social, exterioridade e generalidade. Em conjunto, essas características definem o fato social como algo que existe fora e sobre o indivíduo, ou seja, é algo que, sendo social, antecede a existência do indivíduo e existe independente da sua vontade ou ação, além de lhe  infligir uma pressão coercitiva. A primeira característica, a coerção social ou coercitividade do fato social, está ligada à pressão que exercem sobre os indivíduos para enquadrá-los nas regras sociais, cuja adequação não depende da vontade ou da escolha individual. A outra característica, a exterioridade dos fatos sociais, diz respeito ao aspecto de que eles existem antes e depois da existência de um determinado indivíduo, de uma sociedade, e atua sobre esse a existência desse indivíduo que é um ser daquela sociedade. E por fim, a generalidade dos fatos sociais refere-se à característica de uma fato que ocorre na ou com a maioria dos indivíduos de uma sociedade, e também em distintas sociedades ainda que expressem formas diferentes, por essa característica se reconhece nos acontecimentos da vida social sua natureza coletiva, à qual está ligada, por exemplo, aos costumes, às crenças e aos valores compartilhados pelo grupo/sociedade.

Correspondem ao Fato Social, conceito que explica a solidariedade orgânica.

Incorreta. A solidariedade orgânica é um conceito que trata das diferentes sociedades e corresponde ao tipo de sociedade capitalista, cuja divisão social do trabalho gera interdependência entre os indivíduos.

São três elementos que compõe as diferentes sociedades, mas não se apresentam da mesma maneira nas diferentes sociedades porque dependem do tipo de solidariedade, mecânica ou orgânica.

Incorreta. Fato Social é um conceito composto pelas três características e se aplica a qualquer sociedade, independentemente do tipo de solidariedade que desenvolve.

Atividade

O que são os conceitos de infraestrutura e superestrutura na teoria de Karl Marx?

São como a imagem de um edifício os andares de baixo seriam a infraestrutura e os andares superiores, a superestrutura.

Incorreta. Trata-se de uma metáfora, e essa alternativa não explica a metáfora.

A infraestrutura diz respeito à base econômica da vida social e a superestrutura as instituições que orientam as ações sociais e garantem que a infraestrutura seja do jeito que é.

Correta. Conforme o trecho: “Em Ideologia e Aparelhos ideológicos de Estado, Louis Althusser apresenta uma síntese da concepção marxista do todo social, apresentando-o como uma estrutura social articulada entre a infraestrutura e a superestrutura, a partir da imagem de um edifício. Na sua base, estaria a fundação social constituída por suas forças produtivas e relações de produção, ou seja, a base econômica, também chamada de infraestrutura. Os andares que se ergueriam dessa base seriam, de acordo com o autor, as instâncias do âmbito jurídico-político (o Estado e as leis), de um lado, e a ideologia (tomada aqui no amplo sentido, como fala Karl Deutsc (1984), do mapa de ideias que orientam as ações, podendo ser de ordem religiosa, moral, política, jurídica etc.), de outro, compondo por sua vez a chamada superestrutura.”

São conceitos entrelaçados que configuram as relações de conflitos da sociedade capitalista

Incorreta. Não é a relação entre infraestrutura e superestrutura que gera conflito, mas a luta de classes.

São conceitos que permitem explicar a sociedade capitalista, mas não são adequados a outros tipos de sociedade, na medida em que sociedades tradicionais não têm ideologias.

Incorreta. Conforme a citação de Althusser, Marx concebe a estrutura (incluindo infraestrutura e superestrutura) em qualquer sociedade. A diferença está na base econômica que difere da capitalista pautada no trabalho industrial, assalariado para outras formas, como no sistema feudal, base econômica agrária e sistema de vassalagem, por exemplo.

A infraestrutura e a superestrutura correspondem respectivamente à classe operária e à classe burguesa, visto que os proletários ficam na base da sociedade, trabalhando, enquanto os burgueses ficam no topo da sociedade comandando.

Incorreta. A luta de classes se percebe no âmbito das relações sociais em que a definição desses papéis depende da estrutura social, ou seja, o tipo de base econômica gera o tipo de trabalho e sua respectiva classe de um lado e de outro, a classe dominante, assim como as ideias que circulam conformam o todo social fazendo com que os dominantes continuem dominando e os dominados continuem submetido, em um jogo dialético de tensões.

Atividade

“Para que se estabeleça relação social, é preciso que o sentido seja compartilhado”. Assinale a alternativa que contenha o postulado de Weber que diz respeito à citação do enunciado.

A ação social orienta-se pelas ações dos outros, que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras.

Incorreta. Esse postulado fala do conceito de ação social, e não de relação social.

Nem toda espécie de ação é ‘social’ no sentido aqui sustentado.

Incorreta. Esse postulado fala do conceito de ação social, e não de relação social.

Trata-se sempre de um conteúdo significativo empírico e visado pelos participantes

Correta. Esse postulado diz respeito ao conceito de relação social e à noção de sentidos compartilhados ao falar do conteúdo significativo visado pelos participantes.

A ação social não é idêntica.

Incorreta. Esse postulado fala do conceito de ação social, e não de relação social.

Uma relação social pode ter um caráter inteiramente transitório ou implicar permanência.

Incorreta. Apesar de tratar do conceito de relação social, esse postulado não trata do sentido compartilhado da relação social.

Unidade concluída

Selecione o botão "Avançar" para continuar.

Avançar
x
-